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Marcelo Miranda de Melo: O impacto macroeconômico na construção civil 2025
Opinião

Marcelo Miranda de Melo: O impacto macroeconômico na construção civil 2025

Os recursos para financiamentos de imóveis para classe baixa são oriundos do FGTS e aplicados no programa Minha Casa Minha Vida serão bem menos impactados pela alta das taxas de juros devido ao limite de rentabilidade das contas do FGTS
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Marcelo Miranda De Melo

Engenheiro Civil (UFC), mestre em Gestão de Projetos (University of Manchester-U.K.) e doutor em Economia (CAEN-UFC).

A construção civil é impactada de forma direta por variáveis macroeconômicas sendo a mais relevante a taxa de juros. Num cenário de taxas de juros ascendentes provocado pelo desequilíbrio fiscal no Brasil a construção civil sofre sérios impactos em especial no ano corrente.

Devido à baixa poupança (18%PIB) grande parte da aquisição de bens de grande valor agregado, no caso os imóveis, é feita de forma financiada (83%). As instituições financeiras certamente irão elevar as taxas de financiamento de imóveis em 2025 ocasionando maiores prestações nos financiamentos e exigindo renda maior dos clientes.

O aumento da taxa de juros também impacta a alocação de investimentos financeiros. Os investimentos de renda fixa (CDB/RDB, LCI) deverão ser mais indicados. Portanto, recursos da poupança deverão ser, em parte, direcionados para essas aplicações num cenário de taxa Selic de 14,25%a.a. em breve. Os financiamentos de imóveis direcionados para a classe média provém de recursos da poupança e devem ficar mais escassos ao longo do ano.

Os recursos para financiamentos de imóveis para classe baixa são oriundos do FGTS e aplicados no programa MCMV serão bem menos impactados pela alta das taxas de juros devido ao limite de rentabilidade das contas do FGTS.

Além da taxa de juros, o custo da construção civil vem aumentando pela escassez de mão de obra e aumento de insumos. Dessa forma o INCC 2024 (6,34%a.a.) registrou um aumento significativo em relação ao INCC 2023 (3,32%a.a.). Isso pressiona as construtoras a elevarem os preços restringindo o acesso ao sonho da casa própria.

Com a desvalorização da taxa de câmbio alguns insumos da construção deverão também sofrer elevações em algum momento e induzindo um INCC mais robusto ao longo do tempo.

O maior impacto será sentido nos imóveis para a classe média, devido ao provável aumento de preço, a um maior custo dos financiamentos e a um menor funding das instituições financeiras para o crédito imobiliário. Portanto, o cenário atual de altas taxas de juros, desvalorização cambial, aumento da dívida pública (80%/PIB) e inflação fora da meta contribuem negativamente para o desempenho da indústria da construção civil no País.

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