Neste momento vivemos uma conjuntura marcada por grande indefinição quanto ao rumo das relações entre Brasil e Estados Unidos. Ainda não sabemos se as tarifas de 50% sobre setores brasileiros serão de fato aplicadas, se haverá novas sanções a ministros do STF ou a outras instituições, tampouco se os embates e ameaças contra programas e setores econômicos brasileiros se intensificarão. Essas incertezas seguirão, provavelmente, até o dia 1º de agosto, data marcada para a possível entrada em vigor das tarifas.
Um complicador importante desse processo é o fato de que o governo brasileiro, hoje, possui limitado diálogo com a gestão Trump. Historicamente, mesmo em momentos de tensão, os canais técnicos e diplomáticos sempre foram preservados e eram ativos, diminuindo as tensões entre os governos.
Ao analisarmos os cenários possíveis para o Brasil, é essencial observar os acordos já firmados pelo governo Trump com outros países. Em todos eles, houve concessões significativas por parte dos parceiros: as tarifas foram mantidas entre 15% e 20%, mas, em troca, os países aceitaram ampliar investimentos e abrir seus mercados a produtos americanos. Além disso, esteve presente, nas negociações com os países asiáticos, um componente estratégico voltado à contenção da expansão chinesa.
Nesse sentido, qualquer negociação com o Brasil deverá seguir a mesma lógica: exigirá concessões comerciais e, possivelmente, uma pressão maior no campo geopolítico. Estamos diante de um dilema não apenas político ou ideológico, mas geoestratégico. O Brasil tem se aproximado sistematicamente da China, tanto em termos políticos quanto de investimentos — o que pode ser interpretado pelos EUA como uma ameaça à sua influência na América Latina.
Há também uma dimensão interna, igualmente preocupante. Grupos de extrema-direita nos Estados Unidos veem a eleição brasileira de 2026 como peça-chave para a expansão de sua agenda global. Enfraquecer o governo Lula seria, para eles, uma forma de facilitar a ascensão de um governo alinhado à sua visão, e não a uma direita moderada. No entanto, como já ocorreu em outros países, o efeito Trump tende a ser contraproducente. A percepção de que o Brasil está sendo punido por uma potência estrangeira reforça o sentimento nacionalista e pode, paradoxalmente, fortalecer o governo Lula.
O bolsonarismo, até agora, não conseguiu sustentar a narrativa de que, se estivesse no poder, o Brasil teria vantagens concretas em sua relação com os EUA. Ao contrário, as ações da administração Trump têm afetado inclusive setores da direita moderada, que poderiam representar uma alternativa eleitoral relevante em 2026.
Todo esse quadro evidencia a complexidade da situação. No curto prazo, é urgente discutir os impactos econômicos das tarifas e buscar canais de negociação. Entretanto, é ainda mais necessário avançar na reflexão estratégica e definir qual será a posição do Brasil em um mundo cada vez menos multilateral e mais marcado por disputas geopolíticas.