O estrangeiro e seu espaço vivido, como alvo de atrações para transgredir condutas sexuais e familiares acordadas com a moralidade dominante de sociedades tradicionais, continuam regando o imaginário europeu sobre lugares tropicais. Representados como generosos, paradisíacos, hospitaleiros e calorosos, seus atributos sócio-espaciais permitiriam seus visitantes desfrutarem de prazer e de lazer, em virtude da prodigalidade de seu solo, de seus recursos naturais, de seus acidentes fisiográficos, de seu clima e de seus habitantes, principalmente depois das históricas façanhas relatadas pelos "Viajantes do Maravilhoso", promotores de verdadeiras "visões do paraíso". Claras ideologias geográficas perpassaram tais milenares representações, que práticas turísticas apenas contemporizam e refuncionalizam, por ingredientes em que se destacam, tácita ou explicitamente, a sexualidade e a sensualidade.
As especificidades sócio-culturais e ambientais do litoral nordestino adequam-se para a confluência onírica de carências, para a projeção de metamorfoses [infernos (paraísos) tropicais x paraísos (deserotização) temperados], e para a perspectiva de fuga da mesmice quotidiana, seja para habitantes dos lugares tropicais na periferia capitalista, ou para aqueles desencantados do mundo nas frias megalópoles pós-industriais. Essa adequação compõe a rede de fluxos físicos e imaginários envolvendo visitantes e moradores daqueles territórios tropicalientes.
Distanciamo-nos, assim, de enfoques com "preocupações sociais", assistencialistas e normatizadoras, apoiadas na noção de "turismo sexual", como sinônimo de "prostiturismo", o que amputa variâncias matizes, nuances e símbolos perpassando suas práticas. Reduzi-las às dimensões da pobreza e do mercado é desconsiderar que não se pode falar da sexualidade e das viagens passando ao largo das diferentes formas e fantasias de "prostituição". A produção de territórios turísticos é imaginada como possibilidade de apartação, de deslocamento espacial e existencial da cotidianeidade ordinária, hipertrofiando a humanidade à dimensão produtivista, burocrática e moralista. Daí a sedução de evasão que tais práticas sócio-espaciais provocam. Daí a pobreza daquela redução, ao querer ignorar recorrentes apelos para as viagens, como bem denotam as fugazes expressões "férias conjugais", "amor de verão", vicejando, à flor da pele, em turistas potenciais, que buscam bronzear seu imaginário em pontos/estações de fuga tropicalientes.