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Joaquim Cartaxo: Crescimento e consumo insustentáveis
Opinião

Joaquim Cartaxo: Crescimento e consumo insustentáveis

.Em breve completaremos o primeiro quarto do século 21, e ainda estamos longe dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem alcançados até 2030, em especial a erradicação da pobreza, promoção da saúde e bem-estar, garantia de educação de qualidade, igualdade de gênero, acesso à água potável e saneamento e ação contra as mudanças climáticas
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Joaquim Cartaxo

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Três variáveis principais sustentam a demanda socioeconômica atual: a publicidade cria o desejo; o crédito viabiliza a compra; e a obsolescência renova as necessidades, mantendo o ciclo do consumo em modo permanente. Daí a produção aumenta, a substituição se acelera e o descarte se multiplica.

Essa lógica cotidiana do crescimento gera profundo desequilíbrio entre o que se consome e o que se recicla. O ritmo acelerado da conversão dos recursos finitos do planeta em lixo e poluição supera a capacidade da natureza de regenerá-los e/ou transformá-los em novos recursos. Cite-se como exemplo o lixo eletrônico - computadores, smartphones, eletrodomésticos - que tem aumentado com a celeridade do consumo.

Pela alta frequência de substituição, a produção global desses resíduos ultrapassa dezenas de milhões de toneladas por ano. A maior parte não recebe tratamento adequado. Pequena parcela é coletada por empresas especializadas e passa por triagem, desmontagem, separação e reaproveitamento. A outra parte segue para aterros, depósitos informais ou exportação. O manuseio sem proteção e a exposição a metais pesados comprometem a saúde das pessoas e o solo e a água também sofrem contaminação.

Em breve completaremos o primeiro quarto do século 21, e ainda estamos longe dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem alcançados até 2030, em especial a erradicação da pobreza, promoção da saúde e bem-estar, garantia de educação de qualidade, igualdade de gênero, acesso à água potável e saneamento e ação contra as mudanças climáticas.

Vislumbram-se como tendências globais a intensificação das ameaças à democracia, aprofundamento das crises políticas mundiais, manifestado pelas guerras, o avanço do aquecimento global e o agravamento da desigualdade socioeconômica entre pessoas e regiões.

O atual modelo de crescimento é insustentável. O planeta exige novos caminhos: revisão dos elementos que impulsionam o consumo; valorização da durabilidade dos produtos; substituição do descarte pela circularidade; reutilização, remanufatura e reciclagem integradas no ciclo produtivo. Como bem nos alerta o ambientalista norte-americano David Brower, "não há negócios a fazer em um planeta morto".

 

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