"A soberania nacional é a coisa mais bela do mundo, com a condição de ser soberania e de ser nacional", escreveu Machado de Assis. A frase foi citada por Alexandre de Moraes ao impor medidas cautelares a Jair Bolsonaro. E não sem razão. A decisão do ministro repousa sobre indícios sólidos e confissões explícitas de que o ex-presidente participou conscientemente de uma operação que visava subjugar a Justiça brasileira aos seus interesses, com apoio do
governo Trump.
A quantia de R$ 2 milhões, transferida via Pix ao filho para custear essas atividades no exterior, é a digital do autor na cena do crime. O objetivo escancarado era o de chantagear o Supremo Tribunal Federal. Criar uma situação de crise econômica e diplomática que forçasse a Corte a abandonar o julgamento da ação penal que pesa sobre ele. Se isso não é coação no curso do processo, o que mais seria?
O delírio se agravou quando Trump ameaçou o Brasil com tarifas de 50%, chamando o julgamento de "caça às bruxas" — fala provocada e celebrada pelos Bolsonaro. Nunca antes na História brasileira um ex-presidente atuou ativamente para provocar represálias de uma potência estrangeira contra seu próprio país, tudo em nome de uma anistia.
Alguns teimam em não ver o tamanho do problema. Preferem acreditar na narrativa do "perseguido político", mesmo quando ele confessa em entrevista pública que "o alerta foi dado, e não há mais espaço para omissões" — como quem diz: "ou vocês me anistiam, ou Trump os arruína".
A decisão, portanto, não só é legítima, mas necessária para proteger o processo penal e a independência do Poder Judiciário de um ataque sem precedentes. Tudo isso com indícios abundantes. Que Bolsonaro, seus cúmplices e seus entusiastas aprendam que quem rasga a Constituição não é quem julga, mas quem negocia a soberania do país no atacado, em troca da própria impunidade.