Com frequência ouvimos políticos, jornalistas e comentaristas na mídia brasileira afirmarem, em tom quase apocalíptico, que a polarização atual é problema que atrapalha a vida normal dos brasileiros. Clamam por paz na política. Mas, julgo conveniente pensarmos alguns pontos sobre a questão em breve rememoração da recente história política brasileira.
Toda vez que se fala em polarização, está-se considerando que existe no Brasil uma acirrada disputa entre “extremistas” de esquerda e de direita. Porém, é sabido que não temos uma extrema esquerda organizada no Brasil atuando nas disputas eleitorais e, menos ainda, de forma subterrânea para minar o estado de direito e o regime democrático.
No campo oposto, sim, temos uma extrema direita que tem se manifestado de maneira até espalhafatosa nos últimos anos, com discursos neofascistas e simpatias ao nazismo, defendendo intervenções militares, golpes de estado e sistemáticos ataques ao sistema eleitoral e ao Judiciário.
E, se quisermos buscar as origens desses acirramentos que geraram divisão até nas famílias, devemos retroceder aos inícios dos anos 2000, nas primeiras presidências da República sob o PT. Veem as investigações e julgamentos do chamado Mensalão. Sucedeu-se uma acirrada oposição sob o protagonismo do PSDB. A discussão sobre corrupção tomou canta da vida nacional.
Então a mídia brasileira foi inundada pelo embate entre oposição e a esquerda petista, alcunhada de “petralha”. Gestava-se a criminalização e o ódio na política, cisões no campo das esquerdas e grande oposição da mídia corporativa. Do terceiro para quarto mandato petista na presidência da República, o tucanato empreende mobilizações nacionais, com camisa amarela e o grande pato nos embalos do impeachment da presidenta Dilma Roussef.
Ganhou, mas não levou! O inesperado enfraquecimento dos “tucanos” levou a abertura dos flancos da democracia e da República para a germinação e consolidação de uma extrema direita (bolsonarista) da presidência de Michel Temer a atualidade. A partir de então, o ataque às esquerdas e à democracia ganha suplemento de ódio e ameaças de aniquilação até física dos opositores por uma extrema direita sem vergonha de elogiar torturadores e ditadores, sob o manto verde-amarelo.
Diante disso, esquerdas, progressistas e democratas têm conjugado resistências diárias a esse obscurantismo. E essa frente permanente de resistência aos fascismos e golpismos fora, então, classificada como intransigente polarização.
Contudo, descontados os riscos e excessos inerentes à dinâmica política, nossa sociedade está mais politizada no fortalecimento da sociedade civil e dos valores democráticos hoje, do que estávamos na década de 1990.