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Mariana Pedrosa: "Cadê meu celular? Vou ligar 180!"
Opinião

Mariana Pedrosa: "Cadê meu celular? Vou ligar 180!"

A legislação brasileira já prevê medidas protetivas e punições. O que precisamos é fortalecer o acesso à denúncia, ampliar delegacias especializadas, investir em educação emocional nas escolas e oferecer suporte psicológico às mulheres em risco
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Mariana Pedrosa. Advogada. Conselheira Estadual da OAB-CE. Presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM)-Cariri. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Mariana Pedrosa. Advogada. Conselheira Estadual da OAB-CE. Presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM)-Cariri.

O brutal ataque sofrido por Juliana Garcia dos Santos (35 anos), que levou 61 socos no rosto dentro de um elevador em Natal/RN, revela a urgência de enfrentarmos a violência contra a mulher em sua forma mais cruel e simbólica. O agressor, ex-jogador de basquete, Igor Eduardo Cabral (29 anos), foi preso em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva. O crime foi gravado por câmeras do condomínio e denuncia não apenas um ato isolado, mas a persistência do ciclo da violência que não pode mais ser naturalizado.

Desde o início do relacionamento, Juliana relatou que sofria episódios de violência psicológica, incluindo críticas, ameaças e controle emocional. Esse padrão prévio de abuso marca a fase de tensão, que culminou na explosão brutal no elevador, quando Igor ativou sua fúria por ciúmes e a golpeou até desfigurar seu rosto e fraturar seu maxilar. 61 atos de covardia!

Diante dessa barbárie, o alerta da vítima é exemplar: “Em qualquer sinal, ir embora e não voltar mais.” Essa recomendação, dada após sobreviver à tentativa de feminicídio, é um alerta à tomada de decisão imediata diante do primeiro indicativo de abuso, físico e/ou emocional.

Acreditar em evasivas como “surto claustrofóbico”/“perdi a cabeça”/”não sou assim”, ajuda a perpetuar a narrativa de que transtornos mentais justificam a violência. Esse é um recurso frequente para culpar a vítima e relativizar o crime.

Responsabilizar o agressor é uma das soluções. O porteiro – um exemplo a ser seguido - que acionou a polícia, ao ver as imagens, foi decisivo. O Judiciário que decretou a prisão preventiva entendeu a gravidade do ocorrido. O poder público – da polícia à Justiça – mostra sua importância no resguardo da vítima e na aplicação da lei.

A legislação brasileira já prevê medidas protetivas e punições, mas faltam recursos para apoiar as vítimas. Precisamos fortalecer o acesso à denúncia, ampliar delegacias especializadas, investir em educação emocional nas escolas e oferecer suporte psicológico consistente às mulheres em risco.

A violência contra as mulheres é um problema de gênero, cultural, dos padrões de poder, dos ciúmes misóginos e da naturalização do controle. É essencial sairmos da zona de conforto: não basta a condenação do agressor. É preciso aprender a identificar os sinais, acolher a vítima, romper o ciclo e desenvolver práticas em prol da igualdade e do respeito.

Juliana sobreviveu e seguirá um longo caminho de reconstrução. Seu relato ecoa além de sua dor: é um chamado à mudança. Que esse fato criminoso inspire políticas públicas eficazes. Que sua voz reverbere em redes de apoio e que, finalmente, o terror seja enfrentado com ações concretas. A luta contra a violência doméstica e familiar é urgente. E começa com a escuta e a proteção das mulheres sem meias palavras ou desculpas.

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