As duas grandes questões políticas que o Brasil enfrenta atualmente têm um significado mais importante do que parecem à primeira vista.
Por um lado, o país se vê alvo de ameaças de irrupção do comércio internacional com seu segundo parceiro comercial. O regime Trump já deu claras sinalizações de, apesar das recentes negociações, ter a intenção de manter quente o debate a respeito das tarifas de importação que aplica aos produtos brasileiros no mercado ianque. Suas intenções, em que pese a imprevisibilidade das suas ações, envolvem também a intromissão em assuntos internos e a pressão para que resultados jurídicos sejam afetados por pressões políticas e econômicas.
Por outro lado, no início desta semana o país se viu sequestrado politicamente por um pequeno grupo de extremistas que impediu o início dos trabalhos legislativos deste semestre. Da boca deste grupo, ouviram-se comparações do atual estado político brasileiro com regimes nazi-fascistas da Segunda Guerra Mundial, entre outras atrocidades, para defender sua medida antidemocrática de impedir o funcionamento do Senado Federal e da Câmara dos Deputados.
Nos cenários doméstico e externo, o Brasil encontra-se atualmente engajado em duas lutas pelo futuro, seu e do mundo.
Na sua tentativa de evitar uma guerra comercial com seu segundo principal parceiro comercial, o Brasil tenta fazer valer o direito internacional e a governança econômica global. Na sua argumentação perante a enfraquecida Organização Mundial do Comércio, o país alega que as tarifas vão contra obrigações internacionais contraídas pelos próprios americanos, usam argumentos comerciais inverídicos e podem desestabilizar não apenas a economia brasileira, mas a própria arquitetura internacional de comércio. Estes elementos, típicos da defesa do comércio internacional justo, se contrapõe à tentativa do regime Trump de alterar na marra os fluxos geoeconômicos globais.
Já internamente, o Brasil enfrenta um desafio internacional importante: demonstrar a força das instituições democráticas e do poder da lei perante aqueles que querem a instalação de regimes radicalizados. Este também é um dos motivos, junto à realização da COP30, pelos quais o mundo está de olho no Brasil: estamos demonstrando como proteger, dentro das regras constitucionais e do devido processo legal, a democracia daqueles que querem o seu fim. Isso dá muito medo em extremistas do mundo todo, pois o Brasil mostra qual pode ser seu futuro.
Dentro e fora de casa, os desafios que o Brasil enfrenta são significativos. Eles podem, porém, nos transformar de um eterno “país do futuro” em um país em que o futuro do mundo se delineia.