Desde que Donald Trump anunciou tarifas sobre produtos brasileiros, o país entrou em modo de crise acelerada. Economia e política, plano internacional e nacional, tudo misturado num xadrez de movimentos improváveis e, à primeira vista, sem lógica. Afinal, na matemática gelada, os EUA ganham mais com o Brasil do que perdem — e só 1% de suas importações vem daqui.
Mas há lógica: o Brasil está sob ataque. O alvo final é a soberania nacional. O caminho passa pela corrosão das instituições democráticas.
Não há, na economia americana, urgência que justifique essas tarifas. O impacto lá é mínimo. Aqui, é profundo. Então, por que fazer? Duas razões: 1) atingir a China pressionando sócios menores dos BRICS; 2) o velho passatempo de Washington — desestabilizar democracias ao sul e transformá-las em satélites.
E o Brasil é presa fácil. Tem uma burguesia que despreza qualquer projeto que una crescimento econômico e soberania nacional. Uma elite pronta para saquear o próprio país, desde que mantenha seus privilégios. E conta com uma extrema-direita estridente, obcecada em desmontar a democracia, mesmo que, para isso, atravesse a fronteira da traição nacional e da lesa-pátria.
O governo, por meio de canais discretos, obteve um respiro ao negociar isenções. Belo ponto em uma partida na qual não podemos atacar. Ainda assim, a montanha pariu uma ratazana grande o suficiente para, com a lista divulgada, acender o pavio interno: forças políticas travestidas de “defensoras da economia” ganharam fôlego para seguir corroendo as instituições.
As próximas semanas prometem turbulência. Setores do agro e das finanças tendem a pressionar por um governo mais dócil e disposto à rendição. O jogo é perigoso: um passo em falso e perde-se o tabuleiro.
Em aliança com forças democráticas da sociedade civil, cabe ao governo Lula manter canais de negociação abertos, mas sem concessões que custem soberania ou rompam a aliança estratégica com os BRICS. Firmeza nos princípios e clareza sobre o que pode ser flexibilizado são vitais para frustrar quem aposta na instabilidade para nos reduzir a um quintal geopolítico.