No palco iluminado da propaganda educacional, a palavra da vez é “excelência”. Mas, nos bastidores das escolas privadas brasileiras, pulsa uma realidade crua e silenciada: o esgotamento físico e psíquico de quem carrega a educação nas costas — o professor. Falo com conhecimento de causa. Durante mais de três décadas, lecionei Filosofia, Sociologia e Ensino Religioso, coordenei, supervisionei e formei gerações dentro das redes privadas de Fortaleza. O que presenciei, vivi e escutei de colegas só confirma: há uma necropolítica em curso contra o magistério.
Sob o verniz da inovação, multiplicam-se as jornadas, os assédios e a invisibilização. O salário médio do docente do Ensino Médio privado não ultrapassa R$ 2.100. Muitos trabalham em três escolas por dia, sem qualquer auxílio-transporte ou compensação pelo banco de horas. A correção de provas e o planejamento são feitos à noite, como trabalho voluntário compulsório. E mesmo o recreio, direito mínimo, é negado em mais da metade das escolas privadas do país.
Segundo a CNTE, 45% dos professores já sofreram agressões de alunos. Outros 38% foram vítimas de assédio moral por parte de gestores. Em nome de metas inatingíveis, professores são humilhados publicamente, cobrados por “resultados” e pressionados a maquiar indicadores.
Enquanto isso, campanhas publicitárias falam em milhares de aprovados, sem mencionar que os dados são absolutos e que turmas de elite são isoladas para inflar estatísticas, enquanto o restante dos alunos — e seus professores — são descartados da narrativa oficial.
Esse modelo adoece. O Brasil já registra índices alarmantes de burnout docente, depressão, AVCs, infartos e até suicídios. Sim, professores estão morrendo — física, emocional e simbolicamente. Pior: muitos continuam em sala mesmo doentes, com medo de represálias ou substituição. Há casos de colegas que perderam a fala, a consciência, a paz. E outros que perderam a vida.
Apesar disso, apenas 18% dos professores estão sindicalizados. O medo da retaliação, a fragmentação das redes e a ideia de que “sempre tem quem ganhe menos” desmobilizam a consciência coletiva e tornam o sofrimento individualizado. A precarização tornou-se norma, e não exceção.
É urgente que a classe política, os empresários da educação e a sociedade civil enfrentem esse colapso com seriedade. Reajuste salarial digno, pausas legais respeitadas, apoio psicológico, compensação por deslocamentos, fiscalização dos abusos administrativos e campanhas honestas sobre resultados acadêmicos não são favores: são obrigações.
Não se constrói educação pisando sobre os que ensinam. A promessa de futuro só será legítima quando houver coragem para desmontar a máquina que mói o professor — e restaurar a dignidade de quem dedica a vida à formação do país.