Todos os dias, mulheres morrem no Brasil e no mundo devido a hemorragias graves durante o parto. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sangramento pós-parto é a principal causa de morte materna no planeta — mesmo sendo, na maioria das vezes, evitável.
As causas incluem falha na contração do útero, cesáreas de emergência, distúrbios da coagulação e atrasos no diagnóstico. Estima-se que, só em 2021, mais de 60 mil brasileiras enfrentaram hemorragias graves no parto. A falta de preparo das equipes e a ausência de recursos diagnósticos imediatos comprometeram muitos desfechos.
Com o reconhecimento da OMS sobre a importância do conceito PBM (Patient Blood Management — Gerenciamento do Sangue do Paciente), a medicina de precisão permite hoje individualizar o tratamento do sangramento com base em testes modernos realizados à beira do leito.
Os chamados testes viscoelásticos do sangue funcionam como um “mapa” da coagulação: mostram qual etapa está comprometida e guiam a escolha do tratamento ideal através do uso de medicamentos hemostáticos e produtos derivados do sangue — como, por exemplo, ácido tranexâmico ou concentrado de fibrinogênio. Desta forma, é possível definir o diagnóstico mais cedo, e aumentarmos a eficácia terapêutica, reduzindo, inclusive, o uso desnecessário de transfusões.
A adoção do PBM traz benefícios concretos e imediatos para a prática clínica. Para os médicos, representa maior segurança na tomada de decisão, com base em dados objetivos da coagulação, alinhados ao conceito de medicina de precisão — ou seja, conforme a necessidade de cada paciente. Com isso, é possível evitar tanto intervenções excessivas quanto atrasos no tratamento.
Para as pacientes, o impacto é ainda mais direto: menor risco de complicações, menos transfusões, menor tempo de internação e maior chance de recuperação plena. Em centros que aplicam o PBM de forma estruturada, a mortalidade materna por hemorragia vem diminuindo significativamente, evidenciando que essa abordagem é um verdadeiro divisor de águas no cuidado obstétrico.
Reduzir a mortalidade materna por sangramento exige treinamento de toda equipe multiprofissional, acesso à tecnologia diagnóstica, medicamentos hemostáticos e protocolos bem definidos. Cada minuto conta. E cada vida importa.