O Brasil vive um paradoxo que parece não ter fim: somos a 8ª maior economia do mundo, batemos recordes de arrecadação de impostos ano após ano, mas seguimos entre os países que menos retornam esse esforço ao bem-estar da população. De acordo com o ranking Irbes (Índice de Retorno de Bem-Estar Social), estamos na 30ª posição, um desempenho que envergonha, sobretudo diante do peso tributário suportado pelos brasileiros. A conta não fecha. Pagamos como nações desenvolvidas, mas recebemos como países em colapso institucional.
Nada ilustra melhor essa incoerência do que o atual cenário das obras públicas no país. Em 2024, o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou que mais da metade das obras contratadas com recursos federais estão paralisadas. São 11.941 empreendimentos abandonados, dos quais quase 9 mil estão nas áreas mais sensíveis à população: saúde e educação. Isso não é apenas ineficiência; é negligência com a vida das pessoas, especialmente das mais vulneráveis, que dependem de creches, escolas, hospitais e postos de saúde.
No Ceará, o retrato é ainda mais preocupante. Temos um estado onde governo estadual, senadores e prefeitura da capital pertencem ao mesmo grupo político. Mesmo assim, ou talvez por isso, estamos entre os estados com mais obras federais paralisadas. A promessa de união de forças não está se convertendo em resultados concretos. Pelo contrário: a sensação é de abandono e desprezo pela gestão responsável dos recursos públicos. Enquanto isso, seguimos assistindo, como pagadores de impostos, ao desperdício de verbas e à perpetuação de gargalos estruturais.
É urgente que se reverta essa lógica perversa. Obras paradas significam dinheiro público desperdiçado, serviços essenciais que não chegam à população e, principalmente, a quebra de confiança entre Estado e sociedade. O Brasil precisa sair do ciclo da burocracia improdutiva e da politicagem que paralisa o país. Precisamos de planejamento, compromisso e responsabilidade com quem mais precisa. Afinal, o povo brasileiro já faz sua parte, e com juros. Falta agora o Estado entregar o que deve.