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A reunião entre Trump e Putin e o futuro da geopolítica
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Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

A reunião entre Trump e Putin e o futuro da geopolítica

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No último dia 15 de agosto, a cidade de Anchorage no Alasca (EUA) foi palco de um evento improvável a poucos anos atrás: uma reunião bilateral entre os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia. Desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia por parte da Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, Moscou tem sido relegado à condição de pária em todas as capitais ocidentais, vindo inclusive a ultrapassar o Irã como país mais sancionado do mundo. Entretanto, os gélidos ventos do Alasca trazem novidades que nos permitem sentir que algo mudou.

Com o sugestivo nome de “Pursuing Peace” [Em busca da paz, em tradução literal], a cúpula não alcançou até o momento o término do conflito ou ao menos um cessar-fogo nos termos que ucranianos ou europeus poderiam esperar. Por sua vez, a história pode ser contada de forma muito diferente por parte da Rússia. De pária internacional, com mandato ativo do Tribunal Penal Internacional contra si, Putin foi recebido segundo os mais elevados protocolos diplomáticos, com direito a tapete vermelho, cortesia e bons ofícios por parte do anfitrião. Mais do que isso, em pronunciamento público, ao lado de Trump, Putin não retrocedeu em nenhum momento acerca dos objetivos russos da guerra, lastreado por Trump a que chamou a guerra da Ucrânia como “a guerra de Biden”. Seguida da cúpula com a Rússia, o presidente Trump se reunião com Zelensky e representantes das principais potências europeias em Washington na segunda-feira, estes, em um esforço para não ver a Ucrânia abandonada e a arquitetura de segurança européia erigida no pós-Segunda Guerra Mundial demolida com o beneplácito americano.

Até o momento da escrita e publicação desta coluna, os combates continuam em solo ucraniano. Propriedade é destruída, civis e soldados falecem nas cidades e nos campos. Contudo, os ventos do Alasca trazem consigo um possível vislumbre do futuro: o reconhecimento da Rússia como grande potência, central na (in)segurança europeia, um possível processo de normalização das relações com Moscou e o Ocidente e a estabilização do contexto geopolítico e estratégico europeu, liberando os EUA e a OTAN para lidarem com a China. Entretanto, como fica a Ucrânia nesse cenário? Destruída, com expressiva parcela da sua população refugiada, com uma severa crise demográfica e com território permanentemente solapado. Se descartarmos um prisma moral e justo, veremos que essa geopolítica do futuro é a mesma do passado como é a do presente. E nela, como ponderou Tucídides, “Os fortes fazem o que podem, e os fracos sofrem o que devem”.

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