O que há de mais habitual no Brasil, os escândalos ou a nossa capacidade de esquecê-los? Nessa encruzilhada, o que não faltam são roteiros e narrativas. Entre mocinhos e vilões, heróis de capa ou toga, de farda ou boné. O teatro de tesouras caiu na monotonia, na cafonice, o que me remete ao último artigo da escritora Fernanda Young, quando denuncia um "bando de cafonas": "O cafona quer ser autoridade, para poder dar carteiradas. Quer vencer, para ver o outro perder. Quer bajular o poderoso e debochar do necessitado. Existe algo mais brega do que um rico roubando? Algo mais chique do que um pobre honesto? É sobre isso que a pessoa quer falar, apesar de tudo que está acontecendo. Porque só o bom gosto pode salvar este país."
Entre artigos, músicas e bom gosto, a canção de Cazuza que intitula este texto fala de "um museu de grandes novidades". No Brasil, sempre se praticou a destruição de biografias, e isso tem garantido a impunidade, ou a percepção dela. As investigações e a condução do processo ao sabor das manchetes deram espaço a uma trincheira de vitimismo, onde se abrigam os servis, corruptos e traidores da pátria.
Vendo Bolsonaro réu, inelegível, proibido de dar declarações, lembro-me de Lula: acusado, inelegível, preso e proibido de dar entrevistas; de Collor: acusado, impeachmado, eleito senador, novamente acusado e agora "preso" no conforto do seu lar. Às avessas do que o ditado diz, a arte até tenta acompanhar a encenação da realidade. A novela Vale Tudo, arrebatadora em 1988, voltou para mostrar o desdém da impunidade diante do Brasil político-cultural. Como não esquecer a emblemática cena da banana atirada pelo personagem no final? De modo análogo, hoje, um contraste gritante: somos tratados como "república de bananas". Entre Brazil e Brasis, se você achar que eles estão derrotados, saiba que ainda estão rolando os dados. Porque o tempo, o tempo não para.