Conhecido como espaço de convergência e proliferação de expressões da cultura e da religiosidade popular, desde outrora o Cariri atrai olhares "de fora", interessados em ter contato com suas riquezas culturais e naturais. Nos últimos anos, a região vem recebendo grupos organizados em torno de viagens alinhadas a propostas de turismo imersivo, vinculado a experiências estéticas e culturais em torno de um "Brasil profundo", marcado pela autenticidade.
Uma versão expressiva dessa perspectiva pode ser encontrada, por exemplo, no Cariri criado por Ronaldo Fraga em seu vídeo "Terra de Gigantes" (muito bonito, por sinal): um espaço eminentemente arcaico; nele, andamos de Rural por estradas de chão, esbarramos com bandas de pífanos e reisados, que entrançam cotidianamente em nossas ruas sem calçamento sob um sol escaldante. Curiosidade, encantamento e exotismo se misturam na construção de uma realidade que, honestamente, não faz sentido para a grande maioria dos caririenses, sejam eles nascidos ou, como eu, naturalizados.
É verdade que exaltamos sim as riquezas e as especificidades da nossa diversidade cultural: basta ver, por exemplo, os cortejos e apresentações de grupos da cultura popular em eventos como a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio. Neste e em outros momentos, é difícil não se encantar e não sentir uma ponta de orgulho de pertencermos a essa região. Mas não se trata disso.
O problema é que esse tipo de perspectiva pode ser atraente para olhares de fora, mas, na realidade, trilha por caminhos superficiais, cimentados na estereotipação. Diante disso, surgem algumas questões: quem se beneficia com isso? A quem esse tipo de proposta pode interessar? Se para alguns esse movimento pode ser considerado como uma forma de valorização das nossas tradições, por outro pode ser reducionista, soando como um grande esforço de reiteração do atraso, de um arcaísmo intocado, ofuscando a imensa complexidade de uma região tão híbrida.