A intensa polarização política vivenciada pelo Brasil atualmente, com a contundente e necessária crítica acerca da formação de uma massa de apoiadores da ultradireita advinda de classes econômicas menos abastadas (bem analisada por Jessé Souza, em sua obra Pobre de direita: a vingança dos bastardos), traz consigo uma necessária e inevitável reflexão sobre o papel que muitos sindicatos têm deixado de desempenhar, agravada pela fragilidade ou insuficiência do estudo de História, Filosofia e Sociologia no tocante à noção de consciência de classe.
Se uma clara irracionalidade toma conta de posicionamentos políticos pretensamente críticos (a mascarar rancores e ressentimentos, próprios ou assimilados mediante pregações religiosas ou de grupos virtuais interessados em alimentar exércitos de inocentes úteis como multiplicadores de interesses nada defensáveis racionalmente), há, do outro lado, uma dificuldade (para não dizer incapacidade) de fazer frente à perversa manipulação de fatos e dados que, no final, prejudica a quase todos.
Na origem da palavra sindicato, do grego syndikos (aquele que defende a justiça) ou do francês syndic ou syndicat (como representante de determinada comunidade), tem-se a essência do papel que deve desempenhar esta entidade. Mas, se tornou mais difícil cumprir a missão de defender os interesses da classe que representa quando o modelo econômico vigente, aliado a forças políticas tradicionais, cuidou de atingir sua fonte de recursos (como fez a Lei nº 13.467/2017, “Deforma Trabalhista”, ao tornar facultativa a contribuição sindical, principal receita do movimento), ocupando seus dirigentes com a busca de novos meios de sustentação em vez da correção de erros na condução de muitas destas entidades e da atração (ou reconquista) de filiados.
Como se não bastasse ter de celebrar negociações coletivas por vezes desinteressantes aos profissionais, muitos sindicatos têm de se desdobrar para reverter indicadores de (des)confiança de seus próprios representados e (re)estabelecer um cenário de unidade em sua categoria para não vê-la ainda mais fragilizada e vulnerável às diversas formas de fraude e à multiplicidade de formatos (em comum, precarizados) de trabalho trazida pelo avanço tecnológico.
A situação se agrava quando as adversidades não apenas externas e se mostram presentes na mentalidade arraigada de trabalhadores, convencidos por máquinas (redes) especializadas em lavagem cerebral, de que não são assalariados nem integrantes da classe a que pertencem, que ser CLT é ofensa e que melhor é viver a ilusão de um (nano)empreendedorismo (ainda que da própria exploração). A lógica do individualismo sobreposta à solidariedade prejudica o próprio indivíduo e a coletividade que ele integra (quer aceite, quer não).