O que está em jogo nas próximas eleições brasileiras vai muito além da escolha de gestores públicos. Será uma disputa direta entre a democracia e um inimigo silencioso: o crime organizado infiltrado nas estruturas do Estado. Esse adversário não veste uniforme nem se apresenta nas urnas; opera nas sombras, manipula orçamentos, compra silêncios e financia candidaturas com o único objetivo de perpetuar o próprio domínio, corroendo instituições que deveriam proteger o povo.
Ao longo dos anos, esse câncer institucional deixou de atuar apenas nos becos da criminalidade para se instalar nas salas climatizadas do poder. Apresenta-se como empresário exemplar, "benfeitor" de comunidades carentes ou articulador político influente. Por trás da fachada, controla licitações, direciona políticas públicas e cria redes de proteção para manter intacta sua influência. Chega a influenciar a mídia, patrocinando narrativas convenientes, e captura partidos inteiros, transformados em meros braços de seus interesses escusos.
Se nada mudar, teremos eleições formalmente livres, mas materialmente sequestradas. A democracia, assim, se tornará um teatro: urnas eletrônicas registrando votos enquanto o roteiro já estará escrito nos bastidores, com a participação de agentes públicos cooptados, que fingem servir ao povo, mas servem a quem lhes sustenta financeiramente.
O combate a essa ameaça exige mais que discursos indignados. É necessário endurecer a Lei da Ficha Limpa, tornando inelegíveis não apenas condenados, mas também investigados por crimes graves ligados ao poder público. É urgente acelerar a Lei de Improbidade, evitando que processos se arrastem até a prescrição. A inteligência artificial deve ser utilizada para rastrear transações suspeitas em tempo real, conectando dados bancários, fiscais e eleitorais, revelando o fluxo do dinheiro que compra consciências e subverte a soberania popular.
A blindagem do processo eleitoral passa por auditorias independentes, transparência absoluta na origem dos recursos e punições exemplares para a compra de votos - inclusive cassação imediata de mandatos. Sem isso, a política continuará refém de quem a usa como escudo e transformará a boa-fé do eleitor em moeda de troca.
E há a trincheira final: o cidadão. Um eleitor consciente, informado e imune a promessas fáceis é o antídoto mais poderoso contra o crime infiltrado. Sem vigilância social e imprensa livre, nenhuma lei resistirá à corrosão do poder criminoso. A apatia cívica é o maior presente que podemos oferecer aos que querem dominar o Estado a partir da sombra.
As eleições futuras não são apenas uma data no calendário. São um teste existencial para o Brasil: ou expulsamos o crime organizado das entranhas do Estado, ou entregamos o destino da nação a ele. A escolha será nossa - e o tempo para fazê-la está se esgotando.