Inserções comerciais em novelas não são novidade. Desde sempre, o folhetim brasileiro soube mesclar enredo e publicidade. Mas o que se tem visto nos últimos tempos é o exagero. No remake de Vale Tudo, isso chega a beirar o incômodo. A novela das nove da Globo já acumula 76 ações de merchandising e 16 marcas envolvidas — e a expectativa é ultrapassar com folga o recorde de Pantanal. Resultado: a trama pode ser facilmente apelidada de "Vende Tudo" — e não por acaso.
O excesso transforma os capítulos em uma vitrine, prejudicando o ritmo da história e diluindo a imersão do telespectador na narrativa. A novela original de 1988, de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, é considerada por muitos uma obra-prima da teledramaturgia. Mas, em meio à avalanche publicitária, o remake assinado por Manuela Dias deixa de abordar com a profundidade necessária temas delicados como a diabetes, e enredos como o do bebê reborn surgem e desaparecem, causando um efeito relâmpago.
Ainda que a integração entre marcas e dramaturgia seja uma prática consolidada, é preciso lembrar que a força de uma novela está no seu poder de emocionar, envolver e provocar reflexão. Quando a história passa a ser, em excesso, exposição de produtos, coloca em xeque o que há de mais valioso: a conexão verdadeira com o público.
No fim, cabe uma reflexão: até que ponto a televisão, em busca de novas formas de financiamento e relevância, conseguirá equilibrar o compromisso com a arte de contar histórias e as demandas comerciais do mercado?