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Rita d’Alva Martins Rodrigues: A esperança mora na Casa do Estudante
Opinião

Rita d’Alva Martins Rodrigues: A esperança mora na Casa do Estudante

Os representantes do poder público precisam passar do discurso à prática, e a sociedade, estar ciente de sua responsabilidade. Cidadania é direito e dever. Apoiar instituições que cumpram esse papel de transformação, é preciso
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Rita D’Alva Martins Rodrigues

Promotora de Justiça

Em um país onde a desigualdade social ainda é gritante, urge valorizar iniciativas que promovam justiça e inclusão. A Casa do Estudante, em Fortaleza, é uma dessas iniciativas. Em 2025, a instituição que oferece moradia gratuita a estudantes de baixa renda, completou 91 anos.

A “Mãe CEC”, como os seus residentes a chamam, é uma associação privada sem finalidades lucrativas. Por lá já passaram nomes do Ceará, como os médicos Otoni Cardoso do Vale e José Maria Bonfim, o ministro Ubiratan Aguiar, o professor e jornalista Francisco Souto Paulino, e os deputados José Guimarães e Eunício Oliveira.

Apesar de tantos filhos ilustres, a sua única fonte de recurso, conquista do Ministério Público, se restringe a 20% do valor arrecadado pelo Município com a emissão de carteiras estudantis, além de emendas parlamentares, doações, e bolsas de estudo. Frise-se a dificuldade para receber os repasses devidos pelo poder publico municipal.

Em 2022, foi instaurado na 2ª Promotoria de Justiça de Fundações e Entidades de Interesse Social, um procedimento para verificar a regularidade da instituição. Feita a inspeção, encontramos uma instituição carente de recursos que impactavam, inclusive, na alimentação de seus residentes, e um prédio com sérios problemas estruturais.

O retrato do descaso e abandono. Por outro lado, jovens determinados, movidos pelo desejo de estudar e mudar suas realidades. São protagonistas de uma revolução silenciosa, com força de vontade admirável. Mas é preciso apoio concreto.

O Ministério Público, além de órgão fiscalizador, tem o dever de garantir direitos e fomentar iniciativas que promovam equidade. Cientes desse papel, mobilizamos instituições, empresários, representantes do poder público e cidadãos comprometidos.

Os resultados foram imediatos: a caixa d’água em risco de desabar foi restaurada, os banheiros reformados, o centro administrativo renovado, o refeitório revitalizado. Foram doados televisores e a revitalização de um espaço que hoje abriga numa sala de convivência, o memorial da instituição. Os jovens passaram a sonhar mais alto, almejam uma lavanderia, uma sala de aula, computadores, atendimento psicológico, 3 refeições por dia. Um ambiente digno para estudar e viver.

Os representantes do poder público precisam passar do discurso à prática, e a sociedade, estar ciente de sua responsabilidade. Cidadania é direito e dever. Apoiar instituições que cumpram esse papel de transformação, é preciso.

Como diz a frase atribuída a Aristóteles: “A esperança é o sonho do homem acordado.” Essa e outras instituições estão acordadas — e realizando.

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