Márcio Coimbra: Brasil, Rússia e os riscos de uma aliança perigosa
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CEO do Instituto Monitor da Democracia e membro do Conselho Superior da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos, Espanha
Márcio Coimbra: Brasil, Rússia e os riscos de uma aliança perigosa
Defender a verdadeira soberania brasioleira exige rejeitar o imperialismo russo, condenar suas agressões e realinhar o país com os princípios da ONU e das democracias que os sustentam, antes que o custo se torne insustentável
Foto: NATALIA KOLESNIKOVA / POOL / AFP
VLADIMIR Putin poderá ficar no poder até 2036
A narrativa da Rússia como "aliada" ou "contrapeso" ao Ocidente no Sul Global é uma cortina de fumaça para práticas imperialistas que corroem a soberania de países como o Brasil. Sob o pretexto do multilateralismo dos BRICS, Moscou avança seus interesses geopolíticos de forma predatória, explorando vulnerabilidades e promovendo dependência, com graves consequências.
O caso mais alarmante é o complexo de drones em Alabuga, no Tatarstão. Investigações, como as da Escola de Administração de Yale, denunciam práticas que se aproximam do trabalho forçado, onde estudantes estrangeiros, inclusive latino-americanos, são atraídos por falsas promessas e depois coagidos a produzir armamentos usados na invasão da Ucrânia. Essa operação traduz o imperialismo russo atual: apropriação de mão de obra de países em desenvolvimento, subjugando sua soberania e violando direitos humanos e o direito internacional. O silêncio ou a passividade do Brasil diante disso é uma conivência perigosa.
Esse alinhamento subserviente ficou evidente com a presença do Presidente Lula no Desfile da Vitória em Moscou, que celebra o triunfo soviético sobre o nazismo, mas que Putin usa como plataforma para justificar sua guerra. Ao lado de ditadores, Lula legitimou um regime agressor. A postura persistiu na Cúpula dos Brics no Rio, onde o Brasil evitou qualquer menção à Ucrânia, desperdiçando uma chance de se posicionar a favor do direito internacional, da soberania e das democracias. Optou-se por um "neutralismo" que favorece o invasor e mina a credibilidade do Brasil como defensor da paz baseada em regras.
As consequências econômicas já aparecem. O aumento das importações brasileiras de diesel russo, com desconto, desafia o embargo internacional liderado pelo G7 e expõe o país a sanções secundárias. Empresas e instituições financeiras envolvidas correm o risco de exclusão do sistema financeiro ocidental. O preço pode ser alto: restrição ao acesso a mercados, dificuldades em transações internacionais e perda de investimentos. Para um país que já enfrenta tarifas dos EUA, ampliar esse risco é irresponsável e perigoso.
Moscou não oferece uma parceria equilibrada ao Sul Global. Oferece dependência, riscos geopolíticos e erosão da soberania - seja pela exploração de recursos humanos como em Alabuga ou pela pressão para apoiar sua narrativa de guerra. O Brasil, ao abraçar essa relação acrítica, afasta-se dos valores democráticos, enfraquece sua posição internacional e hipoteca seu futuro econômico.
Defender a verdadeira soberania exige rejeitar o imperialismo russo, condenar suas agressões e realinhar o país com os princípios da ONU e das democracias que os sustentam, antes que o custo se torne insustentável. A subserviência ideológica diante do Kremlin custa caro demais para uma democracia que pode perder para sempre suas boas parcerias e sua credibilidade global.
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