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Ecologia humana e o genocídio na Faixa de Gaza
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Jornalista, divulgador científico e professor da Universidade Federal de Rondonópolis. É doutor em ecologia pela Universidade Autônoma de Madrid, Espanha

Fabio Angeoletto ciência e saúde

Ecologia humana e o genocídio na Faixa de Gaza

É evidente que estamos destruindo a Biosfera, da qual dependemos para sobreviver. Basta! Não podemos consentir que as partes mais agressivas do nosso cérebro triunfem sobre aquelas mais solidárias. Palestina livre!
PALESTINOS seguram panelas vazias em frente a uma cozinha beneficente na Faixa de Gaza (Foto: AFP)
Foto: AFP PALESTINOS seguram panelas vazias em frente a uma cozinha beneficente na Faixa de Gaza

Não é surpreendente que os nazistas que, no século XX perpetraram um genocídio contra os judeus e não nos esqueçamos, contra os comunistas, ciganos, pessoas com deficiências hoje nazifascistas dessa mesma laia apoiem incondicionalmente o genocídio que o Estado de Israel executa contra a população palestina indefesa?

Juan Pedro Ruiz, expert em ecologia humana da Universidade Autônoma de Madrid, propõe a hipótese de que esse tipo de comportamento está arraigado na biologia  do Homo sapiens. No nosso passado como caçadores e coletores, a coesão grupal se obtinha em muitas ocasiões a partir do enfrentamento a grupos estranhos. Ao longo da História, todas as civilizações se utilizaram desse mecanismo etológico de coesão para mobilizar seus súditos em massacres terríveis de outros povos.

Isso quer dizer que somos como robôs, escravos de nossos instintos? Não! No curso da evolução o cérebro humano se constituiu como uma colcha de retalhos para responder e enfrentar a diferentes desafios evolutivos. Para o biólogo espanhol, não somos anjos nem demônios. Temos a capacidade para destruições cruéis mas também evoluímos biologicamente para o altruísmo e para o cuidado com nossos semelhantes.

É obvio que quanto mais culturalmente e fenotipicamente próximos a nós, maior será nossa empatia. Sem embargo, com avanços e recuos, conseguimos ao menos um consenso sobre os direitos básicos, a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa é uma conquista da humanidade, mas evidentemente não temos conseguido fazê-la valer para milhões de seres humanos.

Também é evidente que estamos destruindo a Biosfera, da qual dependemos para sobreviver. Essa e outras guerras mutilam humanos e biomas. Basta! Não podemos consentir que as partes mais agressivas do nosso cérebro triunfem sobre aquelas mais solidárias. Palestina livre! E aos intelectualóides que se dedicam a negar essa verdade obscena, que leiam o artigo que o professor titular de Estudos do Holocausto e Genocídio na Universidade Brown, o israelense Omer Bartov, publicou no The New York Times (I'm a Genocide Scholar. I Know It When I See It).

Nas suas palavras, minha conclusão inevitável é que Israel está cometendo genocídio contra o povo palestino. Tendo crescido em um lar sionista, vivido a primeira metade da minha vida em Israel, servido nas Forças de Defesa de Israel como soldado e oficial e passado a maior parte da minha carreira pesquisando e escrevendo sobre crimes de guerra e o Holocausto, essa foi uma conclusão dolorosa de se chegar, e à qual resisti o máximo que pude. Mas dou aulas sobre genocídio há um quarto de século. Reconheço um quando vejo um.

 

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