Há algo de profundamente simbólico no julgamento da ação penal 2668, será a primeira vez na História da República brasileira que um ex-presidente e militares de alta patente se sentam no banco dos réus por tentativa de golpe de Estado. É o que de mais civilizatório pode acontecer numa democracia: o momento em que as instituições funcionam como diques contra o autoritarismo.
Seria ingenuidade pensar que chegamos aqui por acaso. A Constituição de 1988, tantas vezes vilipendiada por quem a tomou por estorvo no governo anterior, revelou-se mais resiliente do que suas predecessoras. Graças a ela, criou-se, ao longo de três décadas, um tecido institucional capaz de resistir aos sobressaltos da política brasileira - dos impeachments às crises econômicas, das operações anticorrupção às investidas contra o Estado de Direito.
O julgamento de Jair Bolsonaro e dos militares que com ele conspiraram não é apenas o epílogo de uma tentativa frustrada de subversão democrática. É, sobretudo, a prova de que as instituições republicanas amadureceram o suficiente para se protegerem dos seus próprios inimigos internos. Desde 1889, quantas vezes os militares intervieram na política brasileira? Quantos golpes, quantos "movimentos revolucionários", quantas "intervenções"?
Desta vez, aqueles que tentaram quebrar as regras do jogo democrático serão julgados, não por tribunais de exceção, mas por essas mesmas regras, sem interferências, sem corporativismos, sem a tradicional impunidade que sempre os blindou. O resultado desse processo delimitará responsabilidades, fixará um léxico sobre o que é golpe e oferecerá um antídoto contra a nostalgia autoritária.
O que está em jogo é a premissa básica republicana esculpida no caput do artigo 5º da Constituição: ninguém está acima da lei. É o triunfo da República sobre seus algozes históricos. Finalmente!