Tem início, nessa semana, a octogésima Assembleia Geral das Nações Unidas. Em meio a preocupações importantes no entorno do genocídio que tem lugar em Gaza e das medidas radicais do governo dos Estados Unidos em questões econômicas e políticas, os 193 Estados membros da ONU se reunirão a partir de terça-feira para debater o futuro do mundo.
Criada em 1945, a ONU passou a realizar a partir do ano seguinte o encontro da sua Assembleia Geral composta por todos os países que fazem parte da instituição. O primeiro encontro se deu em Londres, contando com os 51 países fundadores da instituição e antes do provimento de edifícios oficiais para o seu funcionamento: o prédio da sede da Assembleia Geral, um projeto de Le Corbusier e Oscar Niemeyer, ficaria pronto apenas em 1952.
Ainda que a Assembleia Geral seja eclipsada muitas vezes pelos debates realizados em outro órgão da ONU, o Conselho de Segurança, ela é um momento muito importante. Entre os meses de setembro e dezembro de todos os anos, os países podem contar com a estrutura da ONU para realizar diferentes atividades que envolvem seu engajamento internacional. A oportunidade de contar com missões diplomáticas que têm a capacidade de negociar diversos temas numa mesma instituição e num mesmo período abre inúmeras possibilidades para a diplomacia, que é utilizada tanto por grandes potências quanto por países com menor alcance internacional por justamente estes mesmos motivos.
Num período específico, porém, as atenções do mundo se dedicam aos discursos dos líderes mundiais. A partir do dia 23 de setembro, ao longo de nove dias úteis, ocorrerão os discursos inclusos no chamado “Debate Geral”: todos os países que fazem parte da ONU têm o direito de se direcionar à comunidade internacional e apontar quais têm sido suas ações internas e externas, assim como indicar as suas preocupações com a realidade do cenário internacional. O primeiro país a discursar é tradicionalmente o Brasil, em razão de seu papel relevante na conformação da própria ONU enquanto uma instituição internacional universal. Segue-se então ao discurso do Estado-sede da instituição, os Estados Unidos, e a partir de então os países se pronunciam em ordem alfabética.
Este ano, porém, há a possibilidade de que esta ordem corra perigo. Desde que assumiu o poder novamente no governo federal dos Estados Unidos, Donald J. Trump e seu governo vêm ameaçando impedir a livre circulação de representantes dos países que farão parte da Assembleia Geral. Estas ameaças se baseiam na necessidade destes líderes de adentrar o território estadunidense para então chegar às instalações da ONU de Nova Iorque.
No fim de agosto, o regime Trump já negou vistos para oficiais palestinos que pretendiam estar presentes nos debates, impedindo na prática a participação da delegação do país. Isso ocorre tanto em razão do apoio do regime estadunidense ao genocídio perpetrado em Gaza, quanto pela vontade de uma série de países europeus de reconhecer o status pleno da Palestina como Estado. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, está nessa lista, que conta com 80 autoridades às quais foi negado o visto de entrada nos Estados Unidos, o que inviabiliza a participação plena da delegação no encontro.
O futuro do mundo está na mesa de negociações, mas dependem tanto da permissão de plena participação de todos os representantes, quanto do uso das outras sedes da ONU em Genebra e Nairóbi. Mudar o lugar pode ser, no futuro, uma forma de salvar a instituição.