Domingo passado, 7 de Setembro, voltei a ficar um pouco inquieta, lembrando de outras datas semelhantes em anos passados, quando membros do STF eram geralmente xingados e ameaçados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Neste ano, preso domiciliar, em pleno processo de julgamento no Superior Tribunal Federal, coube ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ocupar com honras o lugar do ex-presidente.
Ele criticou membros do STF, junto com líderes religiosos, praguejou contra a Justiça, defendeu a anistia de forma veemente, jogando por terra o resto de uma máscara de líder equilibrado, capaz de suportar a pressão que emana dos bolsonaristas. Um misto de manifestações catárticas político-religiosas parece ter reacordado a extrema direita no Brasil, o que, com certeza, deixa ainda mais exacerbados os ânimos. A gente já viu esse filme antes e sabe que ele é ruim.
Já li muita coisa de domingo para cá e fico um pouco preocupada com a concepção que os bolsonaristas têm no termo “tirano” quando dirigido ao ministro do STF, Alexandre de Moraes. Segundo essas pessoas, Moraes persegue sem trégua todos aqueles que têm “opiniões diversas” no Brasil. Coincidentemente, essas mesmas criaturas que gritam liberdade, liberdade são aquelas que atentaram contra a democracia, que invadiram e depredaram prédio públicos, que foram e são a favor do uso indiscriminado de estratégias antidemocráticas para se manter no poder. Algumas dessas criaturas acham o máximo fazer campanha contra o Brasil no Exterior apenas para tentar livrar Jair Bolsonaro da condenação e prisão.
Semana passada, quando li o editorial da Folha de São Paulo, defendendo abertamente a condenação do ex-presidente, tive muitas dúvidas sobre o papel daquele texto no atual contexto, mas em nenhum instante duvido que todos os que atentaram contra a democracia neste país deverão ser punidos. Ainda mais no momento em que muitos deputados estão defendendo uma anistia que jogaria o Brasil de volta na história em momentos políticos nos quais a Justiça deveria ter cobrado torturadores por suas ações. Essa colcha de retalhos que parecia apaziguamento político, no fundo fortaleceu um exército de negacionistas da ditadura militar, capitaneados nos últimos anos pelo próprio Jair Bolsonaro.
Perseguidores e tiranos são as características apontadas também por Donald Trump para os ministros brasileiros com a missão de julgar Bolsonaro e militares de forma inédita. Nos Estados Unidos há também “perseguidores e tiranos” que têm tentado, a duras penas, manter o estado democrático estadunidense respirando, mesmo com dificuldades, mas respirando. No final das contas, parece que esses “tiranos” em vários lugares do mundo estão no lugar certo, na hora certa, fazendo o que a história deverá julgar no futuro. Por enquanto, são eles que estão tentando sustentar as democracias.