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Vicente Melo: O risco da adultização precoce
Opinião

Vicente Melo: O risco da adultização precoce

Brincar não é perda de tempo, é uma forma de expressão, de aprendizagem e de construção da identidade. Através da brincadeira, a criança elabora sentimentos, compreende o mundo e desenvolve habilidades essenciais
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Vicente Melo (Foto: Arquivo pessoal )
Foto: Arquivo pessoal Vicente Melo

Desde cedo, as crianças revelam curiosidade, energia e o desejo de explorar o mundo ao seu redor. Brincar, cair, se sujar, experimentar e imaginar fazem parte dessa jornada única que é a infância um período essencial para o desenvolvimento.

Quando esse tempo é abreviado por cobranças excessivas, responsabilidades precoces ou exigências comportamentais que não condizem com sua idade, entramos no delicado terreno da adultização infantil.

Esse fenômeno ocorre quando transferimos expectativas e padrões adultos para as crianças. Pode ser algo explícito, como exigir que ela se posicione como um adulto, use roupas “maduras” ou assuma tarefas fora do seu tempo. Ou pode acontecer de forma mais sutil, por meio de discursos que condicionam a criança a abandonar sua espontaneidade e autenticidade.

A adultização pode comprometer seriamente o desenvolvimento emocional, social e até cognitivo. Ao viver etapas fora de ordem, a criança pula experiências fundamentais, criando lacunas que mais tarde podem aparecer como insegurança, baixa autoestima, dificuldades de socialização, ansiedade e estresse.

Quando a pressão é constante, ela se sente sobrecarregada, e passa a tentar corresponder a um padrão que não é seu, o que leva à frustração recorrente.

Brincar não é perda de tempo, é uma forma de expressão, de aprendizagem e de construção da identidade. Através da brincadeira, a criança elabora sentimentos, compreende o mundo e desenvolve habilidades essenciais como empatia, criatividade e resiliência.

Os pais, cuidadores e educadores precisam garantir esse espaço de experimentação, acolhendo a criança com paciência, escuta e presença. Respeitar o ritmo da infância é um direito da criança e um dever inegociável do adulto. É por meio da vivência plena dessa fase que se desenvolvem competências emocionais, sociais e cognitivas fundamentais para toda a vida.

Quando oferecemos ambientes seguros e estimulantes, com liberdade para brincar, errar, imaginar e criar, estamos fortalecendo a autoestima, a autonomia e a saúde mental dessas crianças. Ao permitir que elas vivam a infância com plenitude, contribuímos para a formação de adolescentes e adultos mais saudáveis e equilibrados.

A pressa em crescer tem um custo alto e muitas vezes invisível. Quando interrompemos o fluxo natural da infância com cobranças e expectativas irreais, corremos o risco de formar indivíduos inseguros, sobrecarregados e emocionalmente fragilizados. Que possamos, enquanto sociedade, reconhecer o valor e a beleza dessa fase. Que deixemos as crianças com seus risos livres, passos desajeitados e sua forma tão genuína de enxergar o mundo.

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