O enfrentamento ao crime organizado é, hoje, um dos maiores desafios da segurança pública no Brasil. A sofisticação das organizações criminosas exige respostas além do encarceramento em massa. A experiência recente mostra que só prender mais não resolve: é preciso asfixiar financeiramente, atacando o que verdadeiramente as sustenta — o dinheiro.
No Ceará, conforme a Secretaria da Segurança Pública, as prisões por integrar organizações criminosas aumentaram 61,5% entre janeiro e agosto de 2025 em relação ao mesmo período de 2024, passando de 878 para 1.418. Esse dado revela dois aspectos centrais: de um lado, a eficiência das investigações e operações de repressão imediata; de outro, o tamanho do desafio, já que a multiplicação das prisões demonstra que as facções continuam com a capacidade de recrutamento e reposição.
É nesse ponto que entra a ideia de duas frentes complementares: a repressiva e a de formulação de política criminal nacional.
O Ministério Público atua na linha de frente na asfixia financeira do crime organizado. Ao lado das polícias, cabe-lhe denunciar, pedir bloqueio judicial de bens, identificar esquemas de lavagem de dinheiro e desmontar o patrimônio ilícito. Já o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) tem a missão de formular diretrizes que transformem esse esforço em política de Estado.
No atual Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária, uma das metas é justamente integrar órgãos de persecução penal, fortalecer ações de inteligência - fomentando a utilização de equipamentos de ponta, sintonizados com a evolução tecnológica - e priorizar o bloqueio e confisco de ativos ilícitos. Trata-se de um passo decisivo: criar bases normativas e estruturais para que a asfixia financeira das facções não dependa apenas de operações pontuais, mas se torne um eixo permanente e integrado da política criminal brasileira.
A batalha é dura, mas com repressão inteligente - por meio do controle territorial por parte do Estado e da asfixia financeira - e política criminal bem formulada, é possível enfraquecer o poder dessas organizações e, consequentemente, sua capacidade de se reinventar e expandir.