"Diante de minhas negativas, aplicavam-me choques, davam-me socos, pontapés e pauladas nas costas. A certa altura, o capitão Albernaz mandou que eu abrisse a boca "para receber a hóstia sagrada". Introduziu um fio elétrico. Fiquei com a boca toda inchada, sem poder falar direito. Gritaram difamações contra a Igreja, berraram que os padres são homossexuais porque não se casam".
Tito foi um jovem fortalezense que, no início dos anos 60, já demonstrava vocação religiosa. No Liceu, militou na Juventude Estudantil Católica, ao tempo em que, como congregado Mariano, realizava trabalho voluntário nas comunidades pobres da cidade.
Em 1966, iniciou noviciado dominicano, prestando votos no ano seguinte. Em 1968, estudava filosofia na USP quando, junto a outros colegas, ajudou na organização do famoso Congresso de Ibiúna, sendo ali preso ao lado de cerca de 800 estudantes.
Não foi a única vez. Posteriormente, acusado de pertencer à Ação Libertadora Nacional e possuir vínculo direto com Carlos Marighella - o que não era propriamente verdade -, virou figura carimbada para a ditadura.
De cara, foi levado ao DOPS e sofreu toda sorte de tortura nas mãos do famigerado delegado Fleury. Depois, já recluso no Presídio Tiradentes, onde escreveu cartas cujo fragmento inicia o presente texto, foi sequestrado para a sede da Operação Bandeirantes, a "sucursal do inferno", futuro DOI-CODI, onde foi novamente seviciado durante dias. Ali, recebeu o batismo de sangue, uma "hóstia" em forma de descarga elétrica que lhe estourou a boca. O crime? Ser mais cristão do que os ditos cristãos que lhe torturavam.
Foi banido do Brasil na lista de prisioneiros trocados após o sequestro do embaixador suíço. Do Chile foi para Roma, de Roma para a França, sendo acolhido por dominicanos no convento de Sainte Marie de la Tourette. Os demônios que lhe supliciaram no cárcere, porém, nunca lhe deixaram em paz. Foi suicidado em 10 de agosto de 1974.
No último dia 19, o deputado Pastor Henrique Vieira apresentou o Projeto de Lei n. 4089/25, visando inscrever o nome de Frei Tito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Nada mais justo! Numa Pátria em que lesas-pátrias chamam a atenção, heróis de verdade hão de moldar a memória social.