Mais uma vez, Juazeiro recebe milhares de devotos do Padre Cícero e de Nossa Senhora das Dores. Desde os primeiros dias de setembro, aos poucos tudo vai ficando diferente: a cidade se reconfigura com a presença dos romeiros provenientes de diferentes estados nordestinos.
O reencontro com o santo Juazeiro, a renovação dos laços com "Padim", a visita aos lugares sagrados, o pagamento de graças alcançadas faz parte do universo de experiências dos milhares de romeiros que vêm alimentar sua fé na localidade.
Diferentemente de outros centros de peregrinação, onde os devotos cumprem suas obrigações religiosas, como o pagamento de promessas, e não retornam, Juazeiro tem uma característica bastante singular: é um lugar com o qual os romeiros criam um vínculo que dura toda uma vida e é transmitido através das gerações. Para lá os romeiros sentem a necessidade de retornar, se possível todos os anos, para renovar a fé, pois é um espaço de refrigério diante das agruras da vida.
Em Juazeiro, o encontro com o sagrado mistura rezas, pagamentos de promessas, contato com espaços sagrados cuja memória religiosa possibilita purificação e renovo, através da realização de rituais e práticas baseados em uma fé tátil, afetizada, íntima, em que o toque, as conversas, revelam a proximidade entre os devotos, espaços e símbolos sagrados.
Mas é evidente que esta, assim como as outras romarias, vai muito além da devoção e da religiosidade: a festa da padroeira também é a oportunidade para se fazer passeios, compras e utilizar serviços, promovendo impactos expressivos na economia local.
A dimensão turística cada vez mais se destaca, mas a cidade carece de estrutura adequada para receber tantos romeiros, o que exige dos poderes públicos ações e investimentos para acolher esse povo que, incansavelmente, acorre à cidade todos os anos e faz de Juazeiro a capital da fé nordestina, e que, com a sua renitência e teimosia, abriu as picadas para a beatificação do Padre Cícero.