No discurso proferido na Paulista no último dia 07 de setembro, Michelle Bolsonaro repetiu um mantra caro aos bolsonaristas: estamos vivendo uma “perseguição religiosa” aos cristãos. Motivo? Ela não estava mais podendo realizar os “cultos domésticos” que fazia até então.
O mesmo argumento tem sido utilizado pelo pastor Silas Malafaia, radicalizando-se após as medidas determinadas pelo STF contra ele. Por ser um líder religioso, que se comporta como político e agitador, quer fazer crer que tudo que se fizer contra ele é “perseguição religiosa”.
Há resistências no campo evangélico em relação a tais usos. Otoni de Paula, deputado federal pelo Rio de Janeiro e pastor da Assembleia de Deus, é a voz da bancada evangélica que mais se insurge contra tal uso. Tem usado suas redes para “denunciar” a falácia acima descrita: não existe perseguição aos cristãos porque, no caso de Malafaia, ele não está sendo enquadrado por pregações realizadas, mas por atos de afronta ao Poder Judiciário.
Há três semanas uma lei foi aprovada na Câmara do Recife, em que se cria o dia municipal de combate à cristofobia. A “fobia” é entendida não como ojeriza ou discurso de ódio com vistas a negar direitos (como nos casos da homofobia e da misoginia), mas como uma “perseguição aos cristãos”.
A presença pública da religião cristã pela atuação de lideranças e fiéis nos Parlamentos Brasil a fora; a obrigatoriedade de shows (católicos e evangélicos) nas mais diversas festas municipais (tudo bancado com dinheiro público); a imposição da gramática cristã nas eleições (dos conselhos tutelares à Presidência da República); a audiência cada vez mais ampliada de celebridades, youtubers e influencers religiosos; a construção de estruturas, pelo Estado, para viabilizar turismo religioso, a inserção de eventos religiosos nos calendários oficiais de cidades e municípios, e tantas outras coisas a mais seriam suficientes para nos levar a indagar: onde está a perseguição a um universo religioso diluído por todo o corpo social e em busca de cada vez mais diluição? Trata-se de estratégia discursiva para produzir a imagem de perseguido, mobilizando um falacioso pânico moral.