O Mar Mediterrâneo foi até recentemente porta de entrada e cemitério de milhares de imigrantes, estimando-se em mais de 28 mil o número de pessoas desaparecidas ou mortas desde 2014 (OIM/Organização Internacional para as Migrações).
A política desumana de controle de fronteiras adotadas pela União Europeia vem impedindo a concretização de atividades de ajuda aos imigrantes, na maioria de origem africana, que buscam refúgio cruzando a região subsaariana antes da travessia em embarcações inadequadas e superlotadas, a partir da costa da Tunísia e Líbia.
Desde 31 de agosto essa rota marítima, extremamente perigosa, adquire um novo significado com a partida de Barcelona e Genova dos barcos que integram a Global Sumud Flotilla, denominada afetuosamente "Frota da Liberdade". É a maior missão marítima organizada por movimentos da sociedade civil para quebrar o cerco de Israel a Gaza, diante da cumplicidade dos governos, do apoio das corporações e do silêncio da grande mídia. Engana-se quem julga ser um gesto isolado, fortuito, improvisado...
A iniciativa dá continuidade a várias tentativas realizadas desde 2008 de desafiar o cruel bloqueio imposto ao povo palestino com o objetivo humanitário de romper o cerco marítimo e acabar com o prolongado genocídio. Cidadãos de 44 nacionalidades, de diferentes línguas, idades, crenças políticas e religiões, entre ativistas, parlamentares, sindicalistas, médicos, jornalistas, professores, portuários, marinheiros, artistas e religiosos, se reuniram com o propósito de defesa da vida e da solidariedade internacional.
Em Genova, cidade tradicionalmente antifascista, 40 mil pessoas participaram entusiasticamente da partida dos barcos e um sindicalista portuário fez um discurso enérgico: "...se perdermos o contato com nossos camaradas, nem que seja por 20 minutos, bloquearemos toda Europa, não sairá nem mais um prego para Israel...juntamente com nosso sindicato iniciaremos uma greve internacional...toda essa ajuda humanitária que pertence ao povo e vai para o povo tem que chegar a Gaza." (CALP/ Coletivo Autônomo de Trabalhadores Portuários).
No dia 7 de setembro, a Frota da Liberdade atracou no porto tunisiano de Sidi Bou Said. Outras embarcações estão se unindo à mobilização global, vindas da Sicília, Grécia e países do Sudeste Asiático - Indonésia, Paquistão, Maldivas, Sri Lanka, Bangladesh, Tailândia e Filipinas.
Navegando em águas internacionais, mas prevendo os riscos de ataques violentos de Israel, como a agressão perpetrada em 9 de setembro, a Flotilha Sumud (palavra árabe que expressa resiliência, força e perseverança) prossegue heroicamente; sua estratégia unificada é demonstrar o apoio incondicional dos povos a décadas de resistência e luta palestina, através de suas múltiplas manifestações políticas e culturais.