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Maximiliano Ponte: Eu não sou mentiroso
Opinião

Maximiliano Ponte: Eu não sou mentiroso

Não integro o Coletivo Rebento há anos. O equívoco é gravíssimo e vexatório. Para mim, porque me coloca como integrante de um grupo do qual me desliguei justamente por divergências ligadas ao conflito Israel–Palestina
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Maximiliano Ponte

Médico-psiquiatra

Neste domingo, 28 de setembro, o jornal O POVO publicou um artigo de minha autoria intitulado “A Flotilha da Liberdade e o Ceará”. O texto é uma crítica dura ao que entendo como incoerência de quem se indigna com injustiças distantes e fecha os olhos para o terror que se impõe aqui. Do que escrevi, não tiro uma vírgula.

Ocorre que o jornal me identificou como membro de um coletivo de profissionais de saúde, do qual não faço parte. Não integro esse grupo há anos. O equívoco é gravíssimo e vexatório. Para mim, porque me coloca como integrante de um grupo do qual me desliguei justamente por divergências ligadas ao conflito Israel–Palestina.

É vexatório ser apresentado como membro de um grupo que possui posições diferentes das minhas nesse ponto tão sensível. Para o coletivo, porque vê o seu nome associado a um artigo que não foi escrito por um de seus membros, que não aprovou e que, em aspectos centrais, não expressa ideias que defende.

Ainda que tenha se tratado apenas de um erro, trouxe consigo um efeito concreto e deletério: a introdução de uma contradição no meu discurso. Abriu uma lacuna na minha credibilidade, permitindo que aqueles que discordam do artigo usem esse equívoco como ponto de partida para suas contra-argumentações. Se, por um instante, coloco de lado a hipótese do erro de estagiário, a pergunta que se impõe é: a quem interessaria fragilizar um discurso como o meu, contra-hegemônico, num mundo em que o antissionismo se apresenta como a nova face do antissemitismo?

O jornal se dispôs a corrigir as versões digitais, mas as milhares de cópias impressas jamais serão corrigidas. Haverá uma mácula perene, porque as erratas a posteriori não apagam o erro já publicado, não limpam a mancha, não retiram da história aquilo que foi impresso. Faço aqui meu esperneio e meu chamado ao jornal: é preciso cuidado redobrado, sobretudo com aqueles que colaboram de forma espontânea e, ao fazê-lo, se expõem ao tratar de temas tão sensíveis.

Não fragilizem meu discurso. Não me coloquem contra coletivos com os quais tenho divergências, mas nos quais mantenho afinidades e, sobretudo, amizades. Eu não sou mentiroso!

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