Em julho de 2025, o Brasil comemora sua saída do Mapa da Fome, de acordo com a FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Foi a segunda vez sob a orientação de um governo progressista nessas duas décadas do século XXI. Para compreender seu significado é necessário uma breve análise de nossa história recente.
Imperioso lembrar que desde o golpe parlamentar de 2016, o país viveu o desmonte sistemático de políticas que protegiam os mais pobres. A guinada neoliberal que avançou com Michel Temer, através de cortes orçamentários em áreas essenciais, desmonte da legislação de proteção dos trabalhadores e do sistema de seguridade social, além da desvalorização do salário mínimo, empurrou parte da classe média para a pobreza.
Em 2019, com a posse de Jair Bolsonaro, esse projeto atingiu seu paroxismo. No primeiro dia de governo, Bolsonaro extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), revelando suas prioridades e o alinhamento com interesses contrários à soberania alimentar e à justiça social.
A fome, reduzida a níveis históricos até 2014, voltou a crescer de forma alarmante, especialmente durante a pandemia da Covid-19. Naquele período, o Estado virou as costas para quem mais precisava, aprofundando a miséria, o desemprego e a insegurança alimentar.
A saída do Mapa da Fome em 2025 é fruto da retomada de ações como o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da valorização do salário mínimo e da reconstrução da rede de proteção social. Voltar a comer com dignidade é mais do que estatística: é reconhecer a centralidade da vida.
Essa conquista não se deve apenas a decisões técnicas, mas à mobilização de movimentos sociais, redes de solidariedade e coletivos da sociedade civil que denunciaram o descaso e alimentaram, na prática, quem tinha fome.
Nas favelas, nos assentamentos e nas periferias urbanas, foram as mulheres negras, os agricultores familiares, as cozinhas solidárias e as lideranças comunitárias que sustentaram o Brasil quando o Estado falhou. Reconhecer isso é essencial para não idealizar a superação da fome, nem esquecer quem pagou seu preço.
Mais do que celebrar, é preciso consolidar essa conquista. Ainda somos milhões de brasileiros vivendo em situação de insegurança alimentar. A fome é uma chaga que não desaparece por decreto.
Sua superação se dará com políticas públicas consistentes, com o avanço nas garantias de direitos e proteção social aos mais vulneráveis, e através da construção de um modelo de desenvolvimento inclusivo, sustentável e democrático. O Brasil que voltou a comer precisa garantir que jamais volte a ter fome.