Na semana da última Assembleia Geral das Nações Unidas, o Brasil voltou a ocupar o centro das atenções mundiais. Mas, apesar do forte e muito elogiado discurso do presidente Lula que abriu o evento, o que mais chamou a atenção dos especialistas em relações internacionais foi a vitória silenciosa, porém decisiva, do Itamaraty. A diplomacia brasileira conseguiu algo que parecia improvável até poucos meses atrás: aproximar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A “surpreendente” menção sobre Lula realizada por Trump em seu discurso não foi casual nem completamente improvisada, em que pese os problemas que o presidente estadunidense teve com o teleprompt do evento.
Ela tratou-se do resultado de meses de articulação diplomática, conduzida com discrição pelo corpo de embaixadores e diplomatas que, longe dos holofotes, enxergaram a necessidade de construir pontes com diferentes interlocutores no sistema internacional. Essa capacidade de promover o diálogo mesmo em cenários de polarização é parte do DNA do Itamaraty, uma das instituições mais sólidas e respeitadas do Brasil, símbolo da tradição diplomática do país.
Ao articular a presença e a aproximação entre os governos brasileiro e estadunidense, a diplomacia brasileira demonstrou duas forças. A primeira é o pragmatismo histórico de nossa política externa, que não se deixa aprisionar em fronteiras ideológicas rígidas, mas sempre busca ampliar a margem de manobra do país em benefício de seus interesses estratégicos.
A segunda é a reafirmação do Brasil como ator capaz de transitar entre campos políticos divergentes, sinalizando ao mundo que, em meio a crises e divisões, ainda há espaço para a diplomacia e a busca da resolução de conflitos de interesses por meios pacíficos.
Mais do que a troca de palavras cordiais e a possibilidade de um encontro bilateral, a aproximação entre Lula e Trump simboliza o reconhecimento do peso político do corpo diplomático do Brasil. Em um cenário de tensões globais e incertezas sobre a ordem.
Essa vitória, no entanto, não é apenas do governo atual. Ela é, sobretudo, da tradição diplomática brasileira, construída por décadas de aposta no multilateralismo, no diálogo e na capacidade de síntese. O Itamaraty mostrou que, mesmo em tempos de disputa políticas acirradas, o Brasil pode ser protagonista de consensos improváveis.
A partir de agora, será a história que dirá se esse encontro renderá frutos práticos. Mas, para já, a lição é clara: a diplomacia, quando exercida com profissionalismo e visão estratégica, segue sendo uma das maiores riquezas nacionais.