Quando, no início do mês de setembro, tiveram início as preparações para os encontros da Assembleia Geral da ONU deste ano de 2025, muitas críticas foram apresentadas à instituição. Alguns críticos apontavam para a falta de capacidade de funcionamento da ONU diante de diferentes ameaças globais, sobretudo em razão do poder de veto dos países permanentes do Conselho de Segurança.
Outros apontavam a diferença entre os interesses das sociedades e de governos que as representaram no Debate Geral, quando líderes de Estado e líderes de governo discursaram. Por fim, havia aqueles que apontavam para a ONU como uma instituição fadada ao esvaziamento, dada a crise do multilateralismo e um retorno à política da força no cenário internacional.
Porém, o que foi possível observar foi uma instituição que pode não estar em vigor pleno, mas ainda é reconhecida pelos países-membros como uma importante instância para resolução de problemas. Os discursos de variados líderes foram precedidos por uma votação em massa pelo reconhecimento da Palestina enquanto Estado-membro da ONU.
Netanyahu, ao discursar, viu-se isolado internacionalmente, com a saída das delegações de mais de 70 países se recusando a acompanhar sua fala. Mesmo o discurso de Donald Trump, que ultrapassou muito o tempo dado a cada país, foi também uma demonstração de que, por mais protecionista que seja, o seu governo vê, na ONU, um lugar para engajar com os países que buscam alternativas às suas políticas unilaterais e isolacionistas.
Há um elemento importante, porém, no entorno da Assembleia Geral: a reunião de mais de 150 chefes de Estado e chefes de governo num edifício durante uns tantos dias permite uma miríade de oportunidades de diálogo e de aproximação. Trata-se do multilateralismo em ação: a possibilidade de encontro, de diálogo, de avanço de negociações e potenciais parcerias que seriam impossíveis em outros encontros. Foi o que o presidente Lula solicitou sobre a Cúpula do Clima, em Belém, no mês de novembro. Foi o que debateram os líderes sobre os desafios do século XXI.
Estes são muito diferentes daqueles que formataram a organização do sistema internacional após o fim da Segunda Guerra Mundial, 80 anos atrás. Mas também falam, no fundo, dos mesmos princípios de buscar evitar o flagelo da guerra e dar dignidade às pessoas do mundo.
Quando um rei da França ou da Inglaterra morria, a possibilidade de uma crise de sucessão que levasse à guerra era uma realidade. Uma das alternativas foi evitar qualquer período de indefinição ao gritar "O rei morreu! Viva o rei!". Assim, a sucessão se garantia e a possibilidade da guerra tinha ao menos uma diminuição significativa.
A ONU de 1945 não consegue dar conta dos problemas do mundo agora em 2025. Aquela ONU pode estar morta. Mas dela, emerge uma nova ONU, capaz de pressionar os poderosos e realmente identificar o funcionamento do sistema internacional com o respeito à humanidade necessários na nossa tensionada quadra histórica.