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Evandro Menezes de Carvalho: A nova política externa da China
Opinião

Evandro Menezes de Carvalho: A nova política externa da China

.Enquanto uns apostam na desglobalização, a China aposta numa reglobalização que descarte o velho caminho do colonialismo, do hegemonismo e que seja mais inclusiva
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Evandro Menezes De Carvalho

Professor da FGV Direito Rio e da Faculdade de Direito da UFF

Ao longo dos séculos XVIII e XIX a China resistia em aceitar as regras de diplomacia que estavam sendo escritas pela Europa. Por se ver como o “país do centro”, o imperador e sua corte entendiam ser uma humilhação ter que enviar representantes diplomáticos em condições de igualdade jurídica e soberana a países que deveriam prestar-lhes homenagens.

Um dos primeiros embaixadores chineses nos países ocidentais, Guo Songtao, ao ser nomeado para a função, chegou a sofrer calúnias dos habitantes de sua província que o acusavam de estar trabalhando a serviço dos “demônios”, dos “bárbaros” ou de ter abandonado ou traído a sua pátria. Tal era o desprestígio da função diplomática que até a esposa dele se recusou a acompanhá-lo, o que o fez levar consigo a concubina.

As Guerras do Ópio (1839-1842 e 1856-1860) inauguraram o chamado “Século das Humilhações” com inúmeras invasões estrangeiras no território chinês. Neste período, a China foi forçada a “se integrar” a um sistema internacional cujas regras e padrões de conduta diplomática não estava ainda habituada.

Após a fundação da República Popular da China, em 1949, o Partido Comunista da China dedicou-se a revisar os inúmeros tratados internacionais que impunham condições desfavoráveis ao país, eliminando as prerrogativas jurídicas e econômicas que ainda gozavam as potências invasoras em seu solo, e se empenhou em angariar o máximo de apoio internacional ao seu reconhecimento como partido governante de toda a China.

Com o início da política de Reforma e Abertura, em 1978, o governo chinês prioriza a abertura gradual do país para os investimentos externos. As potências ocidentais, que outrora usaram a força bruta para invadir a China, agora são convidadas a entrar, investir e fazer parcerias.

A partir de 2012, com a eleição de Xi Jinping como secretário-geral do Partido, a China passa a ser protagonista de uma política externa de alcance global com conceitos, princípios, métodos e iniciativas que se articulam e compõem um mosaico coerente de ações visando fortalecer o multilateralismo, as organizações internacionais e os meios pacíficos de solução de conflitos.

Conceitos como o de “comunidade de destino comum compartilhado” e iniciativas como a do Cinturão e Rota, a de Desenvolvimento Global, a de Segurança Global, a de Civilização Global e, mais recentemente, a de Governança Global, evidenciam o ânimo chinês de apoiar também uma reforma do sistema de governança internacional que promova uma maior democratização das relações internacionais.

Enquanto uns apostam na desglobalização, a China aposta numa reglobalização que descarte o velho caminho do colonialismo, do hegemonismo e que seja mais inclusiva. A China do século XXI é uma outra história para o mundo.

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