O assassinato do ativista Charlie Kirk, no último 10 de setembro, gerou enorme comoção em todo o ocidente, como é de costume em eventos extremos que ocorram nos EUA. Kirk adquiriu fama na política americana ao liderar debates no formato "prove que estou errado" em campi de instituições educacionais, sempre advogando por seus ideais conservadores. A organização da qual era líder, a Turning Point USA, enxerga colégios e universidades como grandes trincheiras, onde a vitória do argumento conservador sobre o pensamento progressista (supostamente) dominante representaria um ponto de virada com repercussões sobre toda a sociedade americana.
Ainda que os ideais e métodos de Kirk despertassem paixões - a favor e contra -, é inegável o impacto que ele e sua organização tiveram para o reavivamento da direita americana ao longo da última década, especialmente contribuindo para o vigor do trumpismo entre os jovens. Não poderia ser mais trágico, portanto, que fosse assassinado justamente em uma universidade, enquanto realizava um de seus debates. Também trágicas foram as reações posteriores, as quais, no mais abjeto extremo, oscilaram entre declarações de guerra contra a esquerda e celebrações pela morte do "extremista de direita".
Esse último aspecto chama atenção porque a vítima se tornou coadjuvante da tragédia à medida que o debate público moveu sua atenção para a crença política do algoz, informação que para alguns, imagina-se, responderá qual é lado mau da política: direita ou esquerda. Desviando dessa armadilha, lideranças como Barack Obama e Kamala Harris adotaram um discurso partidariamente neutro, reforçando, respectivamente, que a violência "não tem lugar em nossa democracia" e "não tem lugar na América". Não há dúvidas de que a violência não faz parte do processo democrático, mas certamente faz parte e sempre teve lugar na América, o que significa que a identidade do assassino diz muito menos sobre direita e esquerda do que sobre a idealização do excepcionalismo da democracia americana.
A lista de atentados políticos é extensa: nos últimos meses, Donald Trump sofreu uma tentativa de assassinato, enquanto dois representantes democratas de Minnesota foram assassinados. Entre os anos 1960 e 1990, os presidentes republicanos Gerald Ford e Ronald Reagan, além do ex-governador do Alabama George Wallace sofreram tentativas de assassinato. Já Malcolm X, Martin Luther King, Medgar Evers, John Kennedy - então presidente -, e seu irmão Robert Kennedy foram todos assassinados. Assim como os presidentes McKinley, em 1901, James A Garfield em 1881 e Lincoln, em 1865. Em 1804, Alexander Hamilton, um dos pais fundadores dos Estados Unidos, foi morto por seu rival Aaron Burr. A cultura da violência, nos EUA, é anterior à direita e à esquerda. E fez mais uma vítima.