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Laura Jucá: A crise do metanol no Brasil expõe a lacuna da rastreabilidade
Opinião

Laura Jucá: A crise do metanol no Brasil expõe a lacuna da rastreabilidade

Sem rastreabilidade, não existe controle; sem controle, não existe responsabilidade. A ausência desse elo abre espaço para falsificações e contaminações que poderiam ser evitadas com um fluxo digital contínuo de informações
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Laura Jucá

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Os relatos de bebidas contaminadas com metanol, que resultaram em hospitalizações e mortes no Brasil, acenderam mais do que um alerta de saúde pública — revelaram uma vulnerabilidade estrutural: a ausência de rastreabilidade digital das embalagens de vidro pós-consumo, um problema que ultrapassa o setor de bebidas.

O metanol, álcool industrial altamente tóxico, vem sendo usado ilegalmente no lugar do etanol em bebidas falsificadas. Essa substituição é impulsionada por pressões econômicas e facilitada pela falta de rastreabilidade em toda a cadeia de valor.

Para órgãos fiscalizadores, empresas e consumidores, o cenário atual expõe uma dura verdade: sem rastreabilidade digital, a autenticidade é uma ilusão. Enquanto setores como o farmacêutico e o de cosméticos já adotam ferramentas avançadas de controle e conformidade, grande parte da indústria de alimentos e bebidas ainda depende de planilhas fragmentadas, registros em papel e sistemas desconectados — brechas que permitem a circulação de produtos perigosos sem qualquer registro digital de origem.

Toda crise é também uma janela de oportunidade. É hora de o Brasil repensar como a tecnologia pode proteger a autenticidade e a segurança dos produtos pós-consumo. Ao integrar a gestão do ciclo de vida das embalagens a soluções como o blockchain — ferramenta de confiança e transparência — é possível construir estruturas digitais que comprovem a origem e o destino das embalagens de forma segura e verificável.

É aqui que está o cerne do problema: a rastreabilidade.

Não se trata apenas de saber onde algo foi produzido ou por quem, mas de garantir que cada elo da cadeia — da matéria-prima ao descarte — seja transparente, verificável e confiável. Sem rastreabilidade, não existe controle; sem controle, não existe responsabilidade. A ausência desse elo abre espaço para falsificações e contaminações que poderiam ser evitadas com um fluxo digital contínuo de informações.

Os episódios de contaminação por bebidas adulteradas reforçam que rastreabilidade não é apenas uma questão logística, mas de segurança, confiança e saúde pública.

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