Há muito tempo, realizamos pesquisas qualitativas nas mais diversas cidades e nos deparamos com as mais complexas opiniões de eleitores que nos fazem questionar teorias e teses variadas. Dentre essas questões, principalmente depois da eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, percebemos o quanto os eleitores não possuem noção do que é direita e esquerda, temática que, para tantos, é algo intrínseco à dinâmica eleitoral.
No roteiro da pesquisa qualitativa, sempre optamos pela indagação: “Você se considera de direita, esquerda, centro, nenhum ou não sabe?” e, devido a maravilhosa distinção que cerca a pesquisa qualitativa, deixamos o eleitor falar. De início, muitos pedem para explicarmos o que é cada termo porque se consideram “perdidos” na política, apesar de opinarem firmemente sobre Lula e Bolsonaro.
Como optamos por não explicar, acabam por pensar nos candidatos que lhe agradam ou simplesmente dizem centro ou não sabe. As pessoas de centro normalmente argumentam que não gostam do extremismo – ponto interessante, visto que já consideram a denominação de esquerda e direita como extremadas - ou que não seguem partidarismo, votam em pessoas.
Ademais, até mesmo eleitores ferrenhos de Lula ou Bolsonaro não sabem se posicionar ideologicamente. Um habitante da cidade de Tacaratu (Pernambuco), estava transtornado com Bolsonaro e seu ideal extremista de esquerda. Em conjunto, uma votante de Campina Grande (Paraíba) é uma grande admiradora do governo Lula e afirma, com convicção intensa, que o atual presidente é de direita. Outro exemplo, é um eleitor de Belo Jardim, cidade pernambucana, o qual demonstra grande apoio a um deputado federal de um partido definido como de esquerda, tem esperança e confiança em Tarcísio de Freitas, gostou da gestão de Bolsonaro e defende o atual presidente da República.
À vista disso e, claro, diagnosticando uma necessidade do aprofundamento dessa análise, indagamos: o que é a direita e a esquerda para o eleitor? Essa distinção realmente é importante? Como afeta a vida das pessoas? As pesquisas quantitativas conseguem identificar o verdadeiro posicionamento ideológico do eleitor?
Em complemento com a pesquisa quantitativa realizada pela ONG More in Common em parceria com a Quaest que traz os eleitores que se encontram fora da polarização, afirmamos que, com certeza, muitos também não se importam em se encontrar nas esferas ideológicos. É evidente que o debate público que compreende essas esferas é importante para compreender a conjuntura eleitoral, porém, não faz parte da realidade de parcela do eleitor brasileiro.