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Denilde Holzhacker: Um novo capítulo na disputa entre Estados Unidos e China
Opinião

Denilde Holzhacker: Um novo capítulo na disputa entre Estados Unidos e China

Washington acusa Pequim de estar impondo restrições às companhias norte-americanas no acesso a minerais raros, essenciais para a produção de chips, motores elétricos, radares e equipamentos de defesa
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Denilde Holzhacker

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As últimas semanas têm sido intensas na agenda internacional: o acordo em Gaza, mais uma crise institucional no Peru após a queda da presidente Dina Boluarte, o atentado contra o presidente do Equador Daniel Noboa e o temor de uma nova onda da guerra comercial entre Estados Unidos e China.

A ameaça do presidente Trump de aplicar tarifas adicionais de até 100% sobre produtos chineses surpreendeu exportadores ao redor do mundo. Washington justificou a medida afirmando que Pequim estaria impondo restrições às companhias norte-americanas no acesso a minerais raros, essenciais para a produção de chips, motores elétricos, radares e equipamentos de defesa.

A China, que responde por 70% da extração e 90% do processamento mundial desses minerais, rebateu a acusação e ameaçou retaliar os Estados Unidos, argumentando que suas medidas não configuram restrição, mas sim controle estratégico de recursos críticos. No entanto, as novas regras exigem que qualquer empresa estrangeira que exporte produtos contendo minerais raros de origem chinesa necessita obter autorização do governo de Pequim, independentemente de onde o produto seja fabricado.

Por que a China adotou essa medida quando se tinha a expectativa de um acordo?
duas leituras possíveis. A primeira é uma ação para proteger sua crescente indústria de veículos elétricos e tecnologias de ponta, altamente dependentes desses minerais.

A segunda é uma reação direta às recentes medidas dos Estados Unidos, que ampliaram as restrições a empresas chinesas e endureceram o controle sobre o setor de semicondutores. Para Pequim, foi o rompimento da trégua firmada em maio, em Genebra.

Neste novo contexto, a estratégia chinesa ganha um caráter mais assertivo: não esperar novas rodadas diplomáticas, mas se antecipar e responder com medidas concretas às restrições impostas pelo governo dos Estados Unidos. Já o Trump se mostrou reticente em realizar um encontro presencial com Xi Jinping e buscou manter um discurso firme, mas indicando que não acredita em uma escalada do conflito.

O episódio reforça o caráter de "dança estratégica" descrito pelo vice-presidente americano, J. D. Vance: cada passo é calculado para testar o outro parceiro, em um jogo de poder que afeta toda a economia global. Estamos diante da disputa estratégica e da liderança nas cadeias globais de valor.

Diante do novo embate entre China e Estados Unidos, a rodada de negociação programada entre o chanceler Mauro Vieria e o Secretário de Estado Marco Rubio ganha um novo contexto no tabuleiro geopolítico, pois o Brasil detém a segunda maior reserva de minerais raros. O desafio será mantermos uma posição pragmática, capaz de equilibrar interesses econômicos e autonomia diplomática em um cenário de voluntarismo e ameaças.

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