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Leonardo Fernandes: A Pax Trump: o malvado favorito que selou a paz entre Israel e Hamas
Opinião

Leonardo Fernandes: A Pax Trump: o malvado favorito que selou a paz entre Israel e Hamas

Como de costume, os bastidores foram marcados por tensão. Trump pressionou diretamente os líderes remanescentes do Hamas a aceitarem o cessar-fogo, sob ameaça de isolamento total e retaliações regionais
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Leonardo Fernandes

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Donald Trump consolidou sua imagem de pacificador pela força ao anunciar, em Jerusalém, o cessar-fogo entre Israel e o Hamas, encerrando oficialmente dois anos de combates. O acordo, mediado com apoio do Egito, Catar e Turquia, resultou na libertação dos reféns israelenses e na suspensão dos bombardeios em Gaza - uma cena que o próprio presidente descreveu como "o fim da guerra".

No Knesset, o Parlamento israelense, Trump discursou por mais de uma hora, elogiando Benjamin Netanyahu por ter "a coragem de admitir que era hora de parar". Foi ovacionado por líderes israelenses que o saudaram como o arquiteto de uma nova era no Oriente Médio.

Como de costume, os bastidores foram marcados por tensão. Trump pressionou diretamente os líderes remanescentes do Hamas a aceitarem o cessar-fogo, sob ameaça de isolamento total e retaliações regionais. Sua diplomacia operou sob a velha máxima: "paz pela força". Essa abordagem, que mistura sanções, tarifas, ultimatos e concessões graduais, traduziu-se em uma vitória simbólica da coerção sobre a diplomacia tradicional.

Nos meses que antecederam o acordo, ataques a instalações estratégicas e centros de pesquisa nuclear iranianos foram atribuídos a ações de inteligência coordenadas entre Washington e Tel Aviv. O recado era claro: a paz com o Hamas não significava passividade diante de Teerã. A sombra iraniana pairava sobre cada decisão, e Trump fez questão de reforçar que "qualquer ameaça contra Israel terá uma resposta fulminante". O cessar-fogo foi também uma demonstração de força - uma mensagem dirigida não apenas ao Oriente Médio, mas ao mundo.

Em seu discurso triunfal, o presidente evocou os Acordos de Abraão e acenou para um novo redesenho regional. Falou em reconstruir Gaza com apoio financeiro das monarquias do Golfo e mencionou até uma futura aproximação com o Irã "quando as armas puderem descansar". Seu chanceler, Marco Rubio, declarou no Egito que "restaurar Gaza é restaurar a região".

A doutrina America First mostrou-se distante do isolacionismo que muitos previram. Sob Trump, os Estados Unidos ampliaram sua presença em múltiplos tabuleiros - do Oriente Médio à Ásia e até a América Latina, onde rumores de operações discretas na Venezuela reacenderam o debate sobre o alcance real do poder americano.

Ao deixar Israel, Trump declarou a bordo do avião presidencial: "A guerra acabou. Acreditem em mim". O futuro certamente testará essa confiança, mas o fato é que ele transformou um impasse sangrento em palco de consagração política. Com sua diplomacia belicosa e imprevisível, o presidente americano conquistou - talvez paradoxalmente - o título de malvado favorito da paz.

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