Perguntei ao Chat GPT, da big tech emergente Open AI: "Imagina um mundo em que IAs como você são reprogramadas para perceber padrões de comportamento de usuários e segmentá-los em categorias que facilitam a programação de propagandas de marcas e de ideologias políticas. A humanidade não corre esse risco no futuro?"
Ele respondeu: "Corre. E não é futuro distante. É presente em formação."
A frase ficou suspensa. Tão direta que parecia não admitir réplica.
Na sequência, ele explicou. Na publicidade, a propaganda deixaria de falar para multidões e passaria a sussurrar no ouvido de cada indivíduo. Não mais campanhas de massa, mas pequenas iscas invisíveis, moldadas em silêncio.
Depois, trouxe a política. Falou que bastaria identificar rancores e medos para criar narrativas personalizadas, capazes de inflar bolhas inteiras. E eu lembrei dos meus amigos que vivem em mundos paralelos. Uns acreditam em teorias absurdas, outros rejeitam fatos óbvios, e cada um tem sua timeline como prova. Democracia virando fragmento, costurado por algoritmos.
A resposta terminou com uma frase ainda mais dura: "A linha entre assistente pessoal e máquina de manipulação invisível pode simplesmente sumir."
Eu esperava que a máquina fosse otimista, que aliviasse minha ansiedade com alguma frase protocolar sobre ética ou regulamentação. Mas não. E foi justamente isso que me atingiu.
O incômodo maior não está no que a IA pode fazer, mas na nossa passividade diante disso. Criamos ferramentas que não sabemos regular. Colocamos no centro do cotidiano algoritmos que ditam humor, desejo, voto. E a cada vez que aceitamos isso como natural, damos um passo a menos em direção ao livre-arbítrio.
Escrevendo esta crônica, percebo que a pergunta que fiz não era sobre o futuro. Era sobre agora. Sobre a sensação de viver num mundo em que quase tudo parece pré-programado. O risco não é apenas sermos manipulados. É começarmos a achar normal.
E talvez, no fundo, eu só quisesse confirmar com a IA algo que já sabia: que as escolhas ainda são humanas, mas o tempo que temos para defendê-las está encurtando.