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Tirania algorítmica
Opinião

Tirania algorítmica

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Parece que neste primeiro quartel do século XXI as relações de trabalho dão lugar a um novo tipo de "chefe" sem terno e gravata, mas com muito poder: o algoritmo. Podemos vê-lo e senti-lo, mas raramente o percebemos. Aplicativos prometem autonomia e flexibilidade em troca de um controle rígido, exercido por linhas de código. O nome disso? Subordinação algorítmica, conceito que ganha espaço nas discussões jurídicas e acadêmicas sobre o trabalho em plataformas digitais.

Para os motoristas de aplicativo, o algoritmo decide quem recebe uma corrida, qual rota seguir, quanto será pago e quando o profissional será punido ou premiado. Não há ordens verbais nem supervisores à espreita, mas um sistema que observa e avalia comportamentos em tempo real. Resta ao trabalhador, ignorando as regras que regem o sistema, obedecer ao comando da máquina que define seu desempenho e remuneração, sem espaço para contestação.

Onde há normas que regulam o emprego, como no Brasil, há de se repensar a noção clássica de subordinação, antes associada à hierarquia humana. Com a palavra, os juristas. Enquanto os debates avançam, o trabalhador digital suporta - quase sempre feliz - a falsa ideia de liberdade que o prende a uma nova forma de dominação, travestida de neutralidade tecnológica.

Os algoritmos, embora pareçam neutros, refletem os valores e interesses dos seus criadores: empresas que buscam eficiência, lucro e controle a todo custo, mas ao menor custo possível. No trabalho digital, o algoritmo é a mão invisível que explora a força de trabalho sob critérios econômicos disfarçados de "lógica técnica". Quem controla o algoritmo controla a narrativa, o mercado e até o comportamento humano, cabe à sociedade civil impor-lhe limites.

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