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Jayme Leitão: Fortaleza e o Plano Diretor
Opinião

Jayme Leitão: Fortaleza e o Plano Diretor

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Jayme Leitão. Arquiteto. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Jayme Leitão. Arquiteto.

Sabemos dos obstáculos ao planejamento urbano em Fortaleza, como a descontinuidade entre os mandatos e a falta de urbanistas concursados que formem um núcleo perene de controle, mas não podemos nos omitir ao projeto do novo Plano Diretor que segue para a Câmara Municipal. Pelo menos três aspectos merecerão uma avaliação atenta dos vereadores: o primeiro diz respeito à proposta de congelamento da área que vai da Aldeota ao Centro - não há ali patrimônio que não tenha sido tombado, trata-se do único vetor possível de expansão imobiliária para a classe média trabalhadora, e isso referenda a ideia de que essa expansão seguirá se dando no município do Eusébio.

Ora, é uma ótima notícia para Aquiraz e Eusébio e um péssimo indicador para Fortaleza - a cidade vai continuar perdendo população, que hoje mora a e paga impostos lá enquanto enfrenta a distância para trabalhar em Fortaleza.

O segundo aspecto diz respeito às radicais limitações para construção entre a Av. da Abolição e a Beira Mar trazidas pelo projeto do Plano em análise. Dessa forma, interrompe-se um processo que mal iniciou, tomando como exemplo o terreno onde hoje está sendo demolido o Hotel Seara: o investimento imobiliário pulverizado em milhares de unidades residenciais de pequeno porte com serviços, que poderiam repor a malha hoteleira perdida na região, inviabilizada pelas baixas tarifas e altos custos.

O resultado é claro: os hotéis são demolidos e todos os investimentos na área de hospedagem turística se dão hoje em praias afastadas, para onde migrou o turismo atraído pelo kite, deixando Fortaleza de fora. Como essa reposição de leitos não se dará pela via empresarial, já que os números não fecham, teremos agora eliminada a alternativa de sua reposição através do setor imobiliário - outra má notícia para Fortaleza.

O terceiro ponto é a necessidade de compatibilizar o adensamento com um bom desenho urbano. O problema não está na altura dos prédios, mas em limitar os índices de construção e os recuos para que os carros se resolvam em subsolos, eliminando os paredões de estacionamento que destroem a vizinhança e o valor imobiliário.

Não há contradição entre adensamento e o bem estar do transeunte, com passeios largos, arborizados, lojas, vida e diversidade. Para isso, a legislação urbana deve ser restritiva com os recuos e com a distância entre os prédios, preservando a ventilação, tirando carros dos passeios, eliminando poluição visual, postes e fiação aérea, plantando árvores em profusão.

O resultado será o que se vê nas melhores cidades do mundo: segurança, qualidade de vida, valorização imobiliária. É por esse caminho que sonhamos com o futuro de Fortaleza, e é nessa direção que os planos e leis devem nos conduzir!

 

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