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Como colonos digitais, influenciadores são o rosto dos novos modelos de exploração
Opinião

Como colonos digitais, influenciadores são o rosto dos novos modelos de exploração

A resposta não pode ser só indignação momentânea. É regulação urgente: moderação efetiva, transparência algorítmica e responsabilização legal das plataformas
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Gustavo  Freitas  (Foto: arquivo pessoal)
Foto: arquivo pessoal Gustavo Freitas

Os donos das plataformas nunca estariam diante de uma câmera disputando sua atenção. Esse papel cabe a quem, diariamente, te choca ou te dá prazeres rápidos. O caso Hytalo Santos, que dominou o debate público nas últimas semanas, é oportuno para refletirmos sobre os regimes de exploração dos quais as plataformas digitais se beneficiam.

Hoje, o poder digital se concentra em três polos: EUA (Meta, Google, X), China (TikTok, Kwai) e Rússia (Telegram). E é para lá que corre a maior parte dos lucros gerados e dados coletados e é de lá que vêm tendências que moldam nosso cotidiano. Essas empresas não seguem nossas legislações nem se responsabilizam pela proliferação de conteúdos nocivos. Pelo contrário: estimulam, porque dá lucro.

Mais do que programadores, o que mantém a engrenagem funcionando são pessoas como eu e você: que gastamos nosso tempo e nossa saúde consumindo, criando, engajando, brigando... Ah, quanto mais conflito, melhor. As redes prosperam no caos. Você não verá Zuckerberg de tanga rebolando ou ostentando algum "presente de Deus" para prender sua atenção.

Esse papel cabe a quem disputa, todos os dias, a vaga de colono digital: influenciadores que dão rosto real à engrenagem e geram identificação. São eles que fornecem rosto, narrativa e espetáculo para que bilionários fiquem cada vez mais poderosos, sem ter de fazer o trabalho sujo.

Na venda da ilusão da vida boa, corpo modificado, roupa de marca ou celular caríssimo são muitas vezes conquistados a partir da exploração em cascata, que é o modelo de negócios das plataformas digitais. Nisso, crianças e adolescentes são os principais alvos desse esquema de pirâmide. Moldáveis, acreditam rapidamente num "caminho mais fácil" e tornam-se o alvo perfeito.

Quanto mais degradante o conteúdo, maior o engajamento. O grotesco vira audiência e a audiência vira dinheiro para plataformas, influenciadores e empresas que se associam a eles.

Contra tudo o que Hytalo e tantos outros representam, a resposta não pode ser só indignação momentânea. É regulação urgente: moderação efetiva, transparência algorítmica e responsabilização legal das plataformas. Porque, enquanto cancelamos alguém, um novo colono ainda pior já está a caminho.

 

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