Nenhuma lógica será capaz de explicar por que alguém, conhecendo os péssimos resultados de determinada ação, continue a realizá-la com tal frequência que faz elevar seus efeitos negativos ao nível da catástrofe.
Contam-se às centenas as operações policiais realizadas em favelas por diversos governadores do Rio, cujo único resultado é deixar para trás um rastro de sofrimento e mortes nas comunidades, sem que a essência do problema seja tocada.
Considerando apenas de alguns anos para cá, o Instituto Fogo Cruzado listou os casos mais impactantes que resultaram em grande número de mortes provocadas por ações policiais em favelas do Rio de Janeiro.
Maio de 2021: Jacarezinho (27 civis mortos).
Maio de 2022: Complexo da Penha (23 mortos).
Julho de 2022: Complexo do Alemão (16 mortos).
Março de 2023: Salgueiro (13 mortos).
Agora, com essa operação iniciada na terça-feira nos complexos do Alemão e da Penha, o massacre supera a casa de centena de mortos. Mesmo assim, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio de Castro, considera que a ação foi “um sucesso”, afirmando que reconhece como vítimas apenas os quatro policiais mortos.
Sem julgamento, ele condena mais de uma centena de vítimas civis, em linha com a política de morte, típica da extrema direita. Castro não hesita em tripudiar sobre os mortos, esperando que isso lhe renda alguns míseros e ensanguentados votos para eleger seu sucessor.
Para os moradores das comunidades, nenhum benefício. A eles resta chorar seus mortos — e continuar a vida sob o governo paralelo das organizações criminosas, despidos de qualquer assistência do Estado e dos direitos garantidos às bolhas privilegiadas.
Mas não se sabe até quando esse segmento estará a salvo, pois o terror das organizações criminosas bate às portas das classes médias, com 26% da população brasileira impactada pelas facções, por cima e por baixo das cercas elétricas. (Pesquisa da Cambridge University Press.)
O único projeto que apontava para a direção certa para afastar a bandidagem das comunidades do Rio chamava-se Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Talvez por isso mesmo tenha sido desmontado. Seria essa a lógica?