Coordenei recentemente, na Assembleia Legislativa, uma audiência pública intitulada "Trabalho de Cuidado no São João do Tauape". Na ocasião, foram apresentados e debatidos resultados da pesquisa desenvolvida pelo Programa Cientista Chefe (Funcap/SET), formado por um grupo de professoras e pesquisadores que realizam o diagnóstico do trabalho e da vida de cuidadoras e cuidadores.
O trabalho de cuidar é capturado por dois eixos contraditórios: fenômeno "invisível" e que, ao mesmo tempo, associa uma potência que permite viabilizar uma boa parcela da produção econômica de um país.
Essa força, evidenciada pelo estudo, abre caminho para a criação de novas políticas públicas voltadas para quem cuida. Enquanto legisladores, temos o dever de garantir condições dignas para essas pessoas que desempenham um trabalho árduo, muitas vezes não remunerado e nem reconhecido, assegurando-lhes melhores perspectivas de vida.
Considero que um dos maiores aprendizados para quem vivencia a vida pública é mergulhar nessa realidade. Quando nos comprometemos de fato com essa dinâmica, aprendemos e podemos encontrar soluções. O estudo já mostrou o que parecia óbvio: 91% dessas trabalhadoras são mulheres, reafirmando que o cuidado é, culturalmente, atribuído a elas. Aproximadamente 86% são negras ou pardas.
Quase metade dessas mulheres não concluiu o ensino fundamental, apenas 30% cursaram o ensino médio e só 15% contribuem para a previdência social. Além disso, somente 25% exercem o trabalho de cuidado de forma temporária.
Assim, essas mulheres se afastam por décadas do mercado de trabalho, da possibilidade de ter renda, e a maioria se dedica integralmente ao cuidado, o que impacta de forma estruturante a economia real. Para essas mulheres, cuidar é definitivo em todos os seus projetos pessoais, profissionais e de vida. Muitas vezes, interrompem seus planos por acidente ou por circunstâncias, tendo suas oportunidades drasticamente limitadas.
Fortaleza, ao completar 300 anos, deve se dedicar ao resgate dessas trajetórias de vida. Como legislador, reafirmo meu compromisso em lutar pelo avanço de políticas públicas que contemplem essas cuidadoras e lhes proporcionem o tempo: bem mais precioso por elas reivindicado.