Três letrinhas, enfadonhas e vencidas. Danosas. Um funesto ajuntado que classifica, ou melhor, desclassifica qualquer pessoa: VIP. Emolduradas no saguão do aeroporto — e não só, mas é deste particular universo que vou me deter — esvaziam a alegria; infligindo demência, barrada na porta, a toda sorte de simpatia.
As cores de tons de marrons infinitos encerram qualquer criatividade ou exuberância de bom gosto. Para começar, na fila que se precipita à entrada, as vertebras vão se alinhando; os pulmões se enchem em seu melhor respiro para demonstrar um bravejo de soberba. Numa igual sinfonia, alinham seus melhores passos e ensaiam as trombas que serão usadas no átrio interior. É um amontoado de gente infeliz. Desanuviam a vista para não barrarem com os olhos do vizinho. Encerram o sorriso. Quanto mais trombudo, mais distinto — é essa a regra. Procuram se desigualarem na indiferença, reduzindo o espírito humano a um ínfimo encaixotado de isolamento. Caras fechadas, olhos vazios e bocas desmoronadas. Tudo para demonstrar costume, uma alegoria do pertencimento.
O espaço que poderia ser usado para desbravar conversas que o acaso ajustou o encontro serve, sobretudo, de um postiço de folhas verdes de plástico, empoeiradas, ornando um fiel sacramento da impiedosa limitação da mente humana: a distinção pela ignorância. Arrebentam o tempo, como se ele vigorasse em favor de si, incalculando as tormentas decorrentes de sua incontinência. Desmembram do corpo os instintos mais primitivos, que foram essenciais para a vitória da raça humana.
Tristes, equilibrando o andar em passos penosos, se integram sem esforço à paisagem decadente que se enche de copos sujos, móveis com cantos empoeirados e vidraças que filtram o natural. Caminham para seus destinos com hora marcada. Pensam em si mesmos como vitoriosos, diferentes, afastados. Seguem seu martírio ensaiado de indecência social.