O "brain rot", ou podridão cerebral, termo que evoca uma atrofia intelectual, foi eleito palavra do ano em 2024 pela Universidade de Oxford, e reflete a preocupação global com a diminuição da capacidade de concentração na era digital. No século XIX Thoreau já denunciava a superficialidade e a fuga intelectual como causas do esvaziamento mental que compromete a autonomia do pensamento.
A superficialidade digital repercute no cenário político e cria a "podridão cívica". As telas, com ciclos de gratificação instantânea e o bombardeio de informações fragmentadas e simplistas, atrofiam a capacidade de atenção sustentada, de pensamento crítico e de argumentação coerente. Tais habilidades são essenciais para a autonomia intelectual e para o exercício pleno e consciente da cidadania.
Em vez de buscar profundidade, viciamo-nos em estímulos curtos – memes polarizados, vídeos sensacionalistas e narrativas que reforçam vieses e preconceitos. A sobrecarga de dados triviais gera exaustão mental que impede a percepção da realidade e o raciocínio longo, necessário para a formação de opiniões embasadas e justas. Isso, por sua vez, favorece a cegueira das bolhas, à esquerda e à direita, onde conteúdos por vezes grotescamente contrários aos direitos humanos de oponentes, circulam sem qualquer contestação.
Também jornalistas, vitimados pelo mesmo mal, endossam tal degradação do debate público, e trocam a análise crítica pela recompensa rápida de "curtidas" de suas ideias, mesmo que sejam rasas e enviesadas.
É urgente refletir: precisamos ser coerentes com os mandamentos constitucionais, que são a base da convivência democrática. Isso implica respeitar, de verdade, quem pensa diferente e, mais ainda, ter uma atitude cívica íntegra para nunca tolerar abusos de autoridade contra adversários políticos ou ideológicos.
Cidadãos com mente "apodrecida" perdem a capacidade de pensar de forma plural e construtiva, inviabilizando o debate saudável e a busca por soluções coletivas genuínas. A reconstrução cognitiva da cidadania é, portanto, um imperativo social urgente, exigindo um retorno à complexidade do pensamento, ao diálogo genuíno e à valorização do discernimento crítico em todas as esferas.