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Vanda de Claudino Sales: COP 30, para quê?
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Opinião

Vanda de Claudino Sales: COP 30, para quê?

.Os povos das florestas, as comunidades ribeirinhas, os praianos, os quilombolas, grupos que historicamente têm sido os guardiões da biodiversidade, não estão adequadamente representados nas mesas de negociação
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Vanda De Claudino Sales

Doutora em Geografia, ambientalista e professora universitária

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - COP30, a ocorrer brevemente em Belém do Pará, representa importante momento de discussão da crise global resultante das mudanças climáticas. No entanto, a julgar pelas conferências anteriores e pela forma de organização, a expectativa de que surjam soluções inovadoras para problemas que se arrastam por décadas é bastante reduzida.

Um ponto crítico é a presença de interesses corporativos que se sobrepõem às urgências ambientais. O lobby das grandes empresas desvia o foco das necessidades de políticas públicas que priorizem mudanças estruturais na economia mundial, sem o que a COP30 tende a ser um espaço mais de retórica e negócios do que de ação efetiva.

Em adição, há ausência de compromisso com justiça climática. Os povos originários, os povos das florestas, as comunidades ribeirinhas, os praianos, os quilombolas, grupos que historicamente têm sido os guardiões da biodiversidade, não estão adequadamente representados nas mesas de negociação. Isso perpetua as desigualdades existentes e ignora soluções eficazes que essas comunidades podem oferecer. A falta de parceria com esses grupos leva a políticas desconectadas da realidade local, resultando em ações que não refletem as necessidades reais de quem enfrenta as consequências diretas das mudanças climáticas.

Para que a COP30 pudesse ser vista como um divisor de águas, seria fundamental que as lições do passado fossem aprendidas e aplicadas de maneira consciente e inclusiva -mas mesmo o Brasil, que sediará a conferência, não parece ter aprendido essa lição, pois acaba de aprovar licença de pesquisa, visando exploração de petróleo, na bacia da Foz do Amazonas.

A verdade é que a dimensão biológica-cultural do mundo, representada pela fauna, flora e sociedade humana, vem sofrendo todos os tipos de males resultantes das mudanças climáticas, sem que os donos do poder se sensibilizem. Para além, o futuro se mostra obscuro em termos de sobrevivência dessa dimensão exclusiva do Planeta Terra, e enquanto isso, os governos e as grandes corporações solenemente desconhecem o drama do aquecimento global, em prol da grana que destrói coisas belas.

Porém, nem tudo é negativo: motivados pela conferência, no Brasil, em diversas cidades no mundo, também em Belém, grupos de ativistas, ambientalistas e comunidades vulneráveis, estão se reunindo para discutir o contexto societário associado às mudanças climáticas. Isso representa um ganho político sem igual, pois não há dúvidas que será a partir da base que a reestruturação necessária para gerar um pouco de equilíbrio ambiental e justiça socioclimática no planeta - o que um dia esperamos que ocorra - haverá de sair.

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