Sim, e talvez o mais surpreendente seja perceber que o envelhecimento não é apenas perda — é também conquista. Quando o corpo desacelera, o olhar amadurece. A pressa de provar o mundo dá lugar à capacidade de saboreá-lo. Com o tempo, aprendemos a reconhecer o essencial, a valorizar o que antes parecia banal e a entender que as certezas que sustentamos por décadas são, na verdade, pontes provisórias entre diferentes versões de nós mesmos.
O envelhecimento traz uma serenidade que a juventude desconhece. Há um poder silencioso em aceitar as próprias marcas — rugas, cicatrizes, silêncios — como registros de uma biografia viva. Cada linha no rosto é um mapa de experiências, amores, perdas e recomeços. A memória, que se torna mais seletiva, escolhe lembrar o que realmente importa. E é nessa seleção que nasce uma sabedoria simples: a de que o tempo não é inimigo, mas aliado de quem aprendeu a escutar a própria história.
Também é bom envelhecer porque se aprende a dizer não. A vida ganha leveza quando deixamos de buscar aprovação e passamos a escolher o que nos faz bem. As amizades se tornam mais verdadeiras, o amor mais paciente, o riso mais livre. Descobrimos que felicidade não é um ponto de chegada, mas um estado de presença — e que cada manhã ainda é uma chance de começar de novo.
Há também uma beleza discreta na rotina. As pequenas coisas, antes invisíveis, passam a ter brilho próprio: o café da manhã sem pressa, o pôr do sol assistido em silêncio, a conversa que não precisa provar nada.
E se o corpo muda, a mente pode florescer. É tempo de aprender outras linguagens, de se reconectar com a arte, de cultivar curiosidades esquecidas. O envelhecimento pode ser o momento de se reinventar — não para ser quem fomos, mas para descobrir quem ainda podemos ser. Porque, no fim, o que há de bom em envelhecer é poder continuar sendo um projeto em construção.